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Entrevista

“Precisamos de uma cultura de ensino-aprendizagem de idiomas no Brasil”

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ANDRÉ SCHRÖDER
19/07/2022

O número de escolas bilíngues no Brasil cresceu 10% de 2014 a 2019. Só em São Paulo, onde havia 71 instituições de ensino bilíngue e oito escolas internacionais, o número de alunos no sistema de ensino bilíngue – cujo currículo é igual ao de uma escola tradicional, mas com parte das disciplinas ministradas em inglês – saltou de 2800 para 4600. Os dados são da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi) e da Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo (Oebi).

Não há informações atualizadas desde a pandemia. Mas tudo indica que a expansão continua. Professores, pesquisadores e especialistas não hesitam em dizer que um segundo idioma (especialmente o inglês) é cada vez mais relevante – e até essencial – para a formação do cidadão brasileiro do século 21. Saber inglês abre portas para a educação, o emprego e a conectividade com o mundo globalizado.

Leia mais: Como capacitar um aluno para viver em qualquer lugar do mundo?

Há bastante espaço para o bilinguismo crescer no Brasil. De acordo com um levantamento da consultoria JK Capital, mencionado pela revista Exame, apenas 3% das escolas privadas brasileiras usa um sistema de educação bilíngue – ante 10% em países como Argentina e Chile. O que pode acelerar essa expansão é que, em 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou novas diretrizes para regulamentar a modalidade.

O parecer ainda não foi homologado pelo Ministério da Educação (MEC). A expectativa, no entanto, é que as escolas bilíngues respeitem parâmetros nacionais, como formação de professores, avaliação de resultados e carga horária. O professor Ivan Siqueira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), participou das deliberações do CNE em Brasília e ofereceu ao Portal Rhyzos um panorama do ensino bilíngue no Brasil.

Rhyzos Educação – Qual é o perfil das escolas de ensino bilíngue no Brasil?

Ivan Siqueira – Há majoritariamente mais escolas privadas nesse segmento. Dada sua característica, a demanda na rede privada é mais expressiva. Além disso, existem menos iniciativas na rede pública brasileira. Originalmente, diversos programas e escolas estrangeiras tinham como objetivo atender a uma comunidade mais reduzida, educar crianças de moradores que estão no país por determinado tempo. Agora, com a regulamentação, é possível oferecer maior segurança jurídica aos operadores e segurança educacional às famílias, assegurando que o projeto da instituição está adequado ao que se propõe. Isso pode motivar a sua expansão nas redes públicas.

Que avanços as novas diretrizes trazem para o segmento?

As novas diretrizes foram aprovadas pelo CNE, mas ainda não foram homologadas pelo MEC. Isso é formalmente necessário para que o avanço passe a ser parte das normas nacionais de educação. O arcabouço central diferencia “escolas bilíngues” de “programas bilíngues” e também “escolas internacionais” de “uso de materiais ou programas internacionais”. Foram definidos padrões de aprendizagem com base em nível internacional, com todo um conjunto de ações a serem desenvolvidas para alcançarmos qualidade de ensino-aprendizagem.

O que define uma escola bilíngue?

A escola bilíngue se caracteriza pelo ensino integrado de componentes curriculares em duas línguas. É diferente da tradicional e conhecida aula de língua. As obrigações estão colocadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Elas dizem respeito a aspectos pedagógicos, carga horária, proficiência, metodologias e conceito de ensino bilíngue.

Leia mais: As três escolas brasileiras que estão entre as 50 melhores do mundo

Quais são as vantagens da aprendizagem bilíngue?

Estudos na literatura especializada indicam benefícios cognitivos, comportamentais e de saúde. Não se trata somente da aprendizagem de um segundo idioma. É bem mais amplo. O que se busca é algo valorizado na contemporaneidade: a capacidade de transitar em diferentes culturas, de apreensão do diferente, do trabalho colaborativo, da comunicabilidade eficiente em cenários globais, além do acesso a informações que dificilmente aconteceriam apenas na nossa língua. No Brasil, é sabido que o domínio do inglês redunda em mais oportunidades e melhores rendimentos. É também por isso que as famílias investem pesadamente em cursos e viagens. A novidade é que isso vem acontecendo bem mais cedo.

Quais são os desafios para a implementação do modelo no Brasil?

É preciso estabelecer uma cultura de ensino-aprendizagem de idiomas. Historicamente, isso tem sido privilégio para poucos. A vasta maioria dos estudantes, que estão na escola pública, tem poucas oportunidades de desenvolver essas potencialidades. É preciso acreditar que isso também é possível na escola pública, onde estão mais de 80% dos estudantes brasileiros. Para isso se tornar viável, temos que investir no treinamento de docentes e melhorar a sua formação inicial, oferecendo-lhes melhores condições de trabalho, materiais didáticos adequados e reconhecimento social compatível com a sua importância para o desenvolvimento da sociedade. 

Leia maisProfessores trocam experiências em busca de ensino qualificado

Apesar de ser uma disciplina tradicional nas escolas, o domínio do inglês é baixo no Brasil. Por que o idioma não é aprendido de maneira satisfatória?

O domínio de outro idioma requer oportunidade, investimento e tempo. Entretanto, não conseguimos alcançar padrão de aprendizagem significativo mesmo nas classes favorecidas. Parte da explicação é que podemos falar praticamente a mesma língua ao longo de um território continental. Outra parte certamente diz respeito a métodos inadequados, carga horária insuficiente, número elevado de estudantes, materiais didáticos inadequados, docentes sem requisitos necessários de fluência e proficiência.

Como o avanço do ensino bilíngue pode impactar a educação brasileira?

Uma educação de qualidade não somente melhora os números, mas torna factível um país menos desigual, mais generoso com os seus habitantes e certamente com melhores resultados econômicos. O bilíngue ou plurilíngue se insere no contexto global contemporâneo cujas especificidades laborais e sociais requerem competências e habilidades em mais de uma cultura. E a língua é uma porta privilegiada para a cultura. Vem daí um dos aspectos nevrálgicos da educação bilíngue, pois adentrar na tenra idade em uma outra cultura facilita muito a sua assimilação cultural.

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