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Prática docente

Professores trocam experiências em busca de ensino qualificado

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JULIANA COIN E LEONARDO PUJOL 
30/03/2022

Quando o assunto é formação docente, muito se fala em mentoria, formação continuada e atualização dos cursos de Pedagogia e outras licenciaturas. Mas pouco se comenta sobre a alternativa de qualificar os professores com o que há “dentro de casa”, por meio da troca de experiências.

Professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e especialista em gestão de redes públicas de ensino, Emanuel Souto afirma que o intercâmbio interno de conhecimento, materiais pedagógicos e boas-práticas está entre os principais instrumentos de capacitação continuada. E defende que o método ganhe espaço nas escolas.

“Precisamos criar ambientes para socializar experiências bem sucedidas, que possam inspirar outros colegas. Inspirar no sentido de provocar reflexão, trazer os movimentos para sua realidade – contextualizando, experimentando e tentando novas possibilidades dentro desse espírito de renovação”, defende Souto.

Professora Aline Braga. Créditos: Arquivo pessoal.

No colégio João XXIII, em Porto Alegre, as trocas entre pares se dão em reuniões pedagógicas, seminários e formação continuada (palestras, cursos, mentorias). Além disso, há o intercâmbio na sala de professores – conversas informais que se perderam durante a pandemia –, nos espaços digitais institucionais e nos murais físicos da escola.

Leia maisO estímulo ao protagonismo do aluno na escola

“Outro ambiente relevante é as redes sociais, sobretudo o Instagram, onde há o compartilhamento de planos de aula, sequências didáticas, projetos, indicações de obras literárias ou técnicas entre outros conteúdos nas páginas de professores”, explica Aline Braga, professora de Língua Portuguesa no João XXIII.

De fato, a internet se tornou um caminho indispensável para o aprendizado coletivo dos docentes. Ana Paula Bezerra Severiano, professora de redação do colégio Augusto Laranja, em São Paulo, costuma seguir uma série de perfis no Instagram e no Twitter a fim de conhecer novas práticas, ter contato com realidades – e salas de aula – diferentes da sua e exercitar a autocrítica.

“Em um contexto no qual o virtual se sobrepôs ao presencial, exemplos ao mesmo tempo tão distantes e tão próximos de nós podem gerar resultados interessantes”, afirma Severiano.

Interdisciplina e outras vantagens

A troca de experiências também ocorre naquelas reuniões para a organização de projetos que integram diferentes disciplinas – prática esta que ficou ainda mais em evidência com a chegada da BNCC e do Novo Ensino Médio, e sua respectiva necessidade de ofertar itinerários formativos, quebrando as barreiras de cada matéria.

É importante que as instituições planejem um tempo específico para isso. “Tempo e atenção são necessários para que esse processo seja realmente efetivo, sobretudo no Ensino Médio, onde muitas vezes professores e professoras circulam em várias escolas, com perspectivas, objetivos e metodologias diversos”, acrescenta Ana Paula Severiano.

Valéria Oliveira.

A troca de experiências também aumenta o repertório dos professores e incentiva a aprendizagem colaborativa. “Se precisamos ensinar nossos estudantes a serem aprendizes colaborativos, também devemos praticar essa aprendizagem colaborativa entre os pares”, diz a pedagoga Valéria do Carmo de Oliveira, supervisora educacional do colégio Madre de Deus, no Recife.

Leia mais: Na prática: o que nos ensinam os ‘Educadores Nota 10’

Oliveira participou de diferentes ações voltadas à troca de experiências. Em algumas, fez imersões em escolas de outros estados do país para acompanhar a rotina e as atividades. Na linha da interdisciplinaridade, ela explica como a competência é um eixo do seu trabalho pedagógico.

“Todo ano selecionamos um tema. Em 2021, desenvolvemos o projeto Eu conectado com o Mundo: valores e atitudes para um novo tempo. Nesse projeto abordamos diferentes eixos: sustentabilidade e meio ambiente, saúde e relações humanas, tecnologia e inovação”, conta. Como resultado, os estudantes conheceram realidades que nem sequer imaginavam existir, desenvolveram novas habilidades e valores como empatia e solidariedade.

Foi aprendendo com seus pares que Suellen Lima, professora de biologia da rede pública de Caruaru (PE), passou a utilizar mapas mentais. Trata-se de um recurso para resumir o conteúdo, dar ordem as ideias e organizar prioridades em forma de tópicos, desenhos, ícones e palavras-chave.

Suellen Lima.

No começo, os alunos se assustaram com a estratégia. “Eles me perguntavam ‘que loucura é essa? Que cores e que balõezinhos são esses, professora?’”, quando visualizaram a estrutura do mapa mental criado por ela. “Então eu expliquei o recurso e de que forma ia auxiliar no desenvolvimento. A partir disso, eles aprenderam a utilizar uma nova linguagem, descobriram-se nesse processo e entenderam ser possível usar novos caminhos apara aprender”, conta.

Através da prática interdisciplinar, da troca de experiências e da adesão a novos métodos de ensino, o engajamento dos educadores aumenta e os currículos ficam mais inovadores. Todos saem ganhando – os professores, em particular, tanto profissional quanto emocionalmente.

Em relação aos alunos, cabe lembrar que os professores costumam trocar pareceres desde o início do ano letivo. “Nesses momentos, tem-se um olhar mais holístico dos discentes. Desse modo, aspectos socioemocionais e cognitivos são expostos a fim de que os professores possam fazer intervenções mais potentes para o afetivo e o cognitivo do estudante”, diz a professora Aline Braga, de Porto Alegre.

Ela conclui dizendo que os momentos de interação mais proveitosos são os que estão diretamente ligados às práticas de sala de aula. Logo, os espaços de planejamento entre professores são importantes para o saber docente.

Ao fim e ao cabo, o compartilhamento de experiências reforça o papel da instituição como lugar social e de promoção da aprendizagem. E ainda rompe paradigmas. A predisposição da escola em fugir dos laços tradicionais do trabalho pedagógico significa um comprometimento com a inovação.

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