Como ser um professor criativo?
ANA CAROLINA STOBBE
1º/03/2023
Basta falar em matemática para muitos estudantes sentirem calafrios. Para eles, o ensino da disciplina parece abstrato, complexo demais. Para piorar, nem sempre a didática do professor é atrativa ou compreensível o suficiente. A verdade, contudo, é que ensinar matemática pode ser divertido. Basta usar a criatividade.
Foi assim que nasceu o projeto Geonecas no Centro Juvenil de Ciência e Cultura de Vitória da Conquista (BA). A ideia básica é que os estudantes confeccionem roupas de bonecas usando tecidos cortados em formas geométricas. Mas o trabalho (e a aprendizagem) não param por aí. Outras etapas incluem a fotografia das modelos, um desfile e uma exposição dos trabalhos via QR Codes dispostos pela escola – que podem receber votos pelo Instagram.
O projeto, que foi criado pela professora Adriana Santos Sousa, é só mais um entre tantos que reforçam: não é preciso alto investimento para explorar a criatividade em sala de aula. Por mais lúdica que seja a iniciativa, porém, é fundamental que ela dialogue com a realidade dos estudantes.
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Redes sociais: conexão com as novas gerações
É cada vez mais comum se deparar com professores produzindo conteúdo nas redes sociais. Do YouTube ao TikTok, assuntos relacionados às disciplinas tradicionais são tratados com leveza e de maneira interessante – é o caso do professor Noslen Borges, que entrevistamos no ano passado.
Não é de se estranhar que os estudantes tenham mais interesse por esse tipo de conteúdo: hoje em dia, o ensino básico é quase todo formado por nativos digitais.
Agora, isso não significa que o professor precisa ser um mestre das dancinhas. A questão é se familiarizar com os aplicativos do momento e pensar em maneiras de usá-los a seu favor em sala de aula. Explorar o universo com o qual os alunos estão habituados é uma ótima maneira de estimular a criatividade.
Seguindo esse caminho, o professor de filosofia Edmundo Steffen iniciou sua produção de conteúdo nas redes sociais. Os formatos são diversos: threads no Twitter, carrosséis no Instagram e vídeos no TikTok.
Nesses conteúdos, Steffen busca relacionar a cultura popular com temáticas que fazem parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É assim que ele analisa desde o pensamento do filósofo Friedrich Nietzsche na música da cantora Marília Mendonça até a presença de pensamentos filosóficos nos vídeos do youtuber Casimiro.
“Eu percebi que isso era similar à prática de Paulo Freire, ou seja, a ideia de partir do contexto social dos alunos, que não são folhas em branco, como diria o filósofo John Locke”, analisa Steffen.
“E aí entra essa questão da cultura pop. Nas primeiras aulas do ano, eu já pergunto o que eles gostam de ouvir, de assistir… Assim, eu fico por dentro do contexto deles e sei o que posso abordar para criar relações com o conteúdo na aula. Alimento minha criatividade a partir dessa troca”, avalia Steffen.
CASIMIRO E A FILOSOFIA
— Edmundo Alberto Steffen (@profedworld) July 5, 2022
Que o streamer Casimiro é um fenômeno da internet todos já sabemos, mas você sabe o que ele tem a ver com a filosofia? (segue o fio🧶) + pic.twitter.com/2MEUhWlUal
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É possível inovar de diferentes maneiras, como investir na gamificação (usar o jogo Minecraft para o ensino de geografia, por exemplo) ou utilizar inteligências artificiais como o ChatGPT nas aulas.
Praticamente todas as tecnologias podem ser usadas de maneira criativa no ensino de diferentes disciplinas.
Estímulo à criatividade
Quando consideramos o contexto do País, é preciso reconhecer que nem sempre as ferramentas digitais são acessíveis. Mas apostar em metodologias ativas e na cultura maker são maneiras de manter o engajamento, pois estimulam a autonomia dos estudantes. Atividades simples podem se tornar interessantes com um professor criativo no comando.
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O projeto das Geonecas da professora Adriana é um grande exemplo disso. Afinal, com ele, os educandos colocam seus conhecimentos sobre geometria em prática, além de se familiarizarem ainda mais com o conteúdo ao manipularem os materiais tridimensionais em suas criações. Outros prós são o estímulo à criatividade e a possibilidade de abordar outros assuntos durante as aulas, como a pressão estética.
“A oficina surgiu para estudar, caracterizar e definir as figuras geométricas. O lugar onde os alunos estudam não é tradicional, com as classes enfileiradas. É um lugar que preza pela interdisciplinaridade e que estimula a criatividade”, explica Adriana.
Se pressão estética e matemática não parecem conectadas, é aí que a criatividade ganha forma. Principalmente porque a interdisciplinaridade é uma ótima maneira de pensar fora da caixa e criar atividades diferenciadas e que estimulam os alunos a terem prazer em aprender.
“Quando fomos comprar as bonecas, percebemos que a maioria era loira e de olhos azuis. Então discutimos sobre a ditadura da beleza, a representatividade nesses espaços e até mesmo as doenças que podem ser ocasionadas por essa busca incessante por um corpo perfeito, como anorexia, bulimia… Foi uma tarefa que envolveu vários professores”, conclui a professora.
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