Como aprender mais, mais rápido e melhor
LEONARDO PUJOL, da agência República
24/04/2023
Nos meus tempos de faculdade, tive a audácia de me aventurar em disciplinas (eletivas) dos cursos de Administração e Relações Internacionais (RI). Como estudante de Jornalismo, achava que frequentar outras graduações me tiraria da zona de conforto e agregaria conhecimento e habilidades que dificilmente eu desenvolveria sem essas experiências.
Mesmo com seus números e planilhas, as aulas de Gestão de Negócios, no curso de Administração, não chegaram nem perto da dificuldade que tive na RI. Aluno de Política Internacional Contemporânea, disciplina do quinto período da grade curricular, logo percebi que havia um abismo de conhecimento entre meus colegas e eu. O apogeu do império otomano, o expansionismo americano, o regime feudal do xogunato: momentos da história que meus colegas dominavam, e que eu sabia pouco ou absolutamente nada.
Apesar da dificuldade para me entrosar nos debates, a crise foi atenuando à medida que eu pesquisava no Google (durante a aula) os termos mencionados pelo professor. Mas o pulo do gato foi quando eu e outros colegas elaboramos uma aula sobre a formação do Mercosul.
Estudar o tema de modo prático, a ponto de planejar a aula e ser capaz de ensiná-la, fez com que eu realmente aprendesse. Na ocasião, não aprendi apenas sobre o Mercosul: também aprendi que o estudo ativo gera muito mais resultado.
Isso é o que muitos educadores e pesquisadores dizem há bastante tempo: a aprendizagem ativa é bem mais eficiente do que a aprendizagem passiva. Especialmente em um mundo repleto de distrações e competitivo como o nosso. Não é à toa que, na pedagogia, fala-se cada vez mais em gamificação, sala de aula invertida, aprendizagem baseada em projetos e outras metodologias ativas.
Leia mais: Como adaptar a aula para o contexto ativo
Para aqueles que querem apoiar e melhorar a aprendizagem dos seus alunos – ensinando-os como aprender mais, mais rápido e melhor, desde o ensino básico até o ensino superior –, vem a calhar o novo livro de George Marmelstein. O autor, de 46 anos, tinha 22 quando foi aprovado em primeiro lugar no concurso para procurador do estado de Alagoas. Dois anos depois, tornou-se um dos juízes mais jovens do Brasil.
O sucesso acadêmico e profissional de Marmelstein está intrinsicamente ligado ao que ele aprendeu ao longo do tempo. Estudante fervoroso, Marmelstein notou que é preciso se preocupar menos com o acúmulo de informações e mais com o domínio das habilidades necessárias para processar o conhecimento adquirido. Dessa maneira, linha sobre linha, construiu uma rotina focada no processo de aprimoramento intelectual, tornando-se o que chama de “superaprendiz” – isto é, alguém em busca da máxima eficiência cognitiva.
Lançado em janeiro de 2023 pela editora Objetiva, “Superaprendizagem: a ciência da alta performance cognitiva” é o resultado desse esforço e também da própria aplicação dos métodos que Marmelstein desenvolveu. No livro, o autor oferece exemplos e dicas práticas de aprendizagem, elaboradas a partir de experiências pessoais, bem como de pesquisas e estudos científicos sobre o assunto.
Leia mais: 3 dicas para aulas mais dinâmicas, práticas e ativas
Por exemplo: logo no começo do livro, Marmelstein ressalta que a leitura relaxada ou cotidiana até pode ser prazerosa e útil, mas é superficial e tem baixo impacto cognitivo. “Como essa é a única forma que se costuma ensinar nas escolas, acabamos incorporando a ideia de que toda leitura é a mesma coisa, o que é um erro, pois quando usada para fins de aprendizagem ela precisa ser mais intensa.”
Não é que a leitura passiva seja descartável. Mas ela geralmente só permite o input (aquisição do conhecimento). Para o output (domínio do conhecimento), é preciso fazer anotações nas margens dos livros e artigos, apontar setas para parágrafos importantes, sublinhar trechos relevantes e circular palavras-chave.
Quer ir além? Adote outras ações ativas – como elaborar mapas mentais, solucionar problemas sobre o assunto, escrever ensaios e, como fiz na faculdade, dar uma aula sobre o tema.
“Geralmente, o que se costuma chamar de estudo, pelo menos no modelo tradicional, é pseudoestudo, pois é um processo passivo de recebimento de informações, sem o correspondente processamento ativo. O processo de aprendizagem só se completa quando há condições de utilizar as informações recebidas em um contexto prático. Até lá, o que se tem é apenas um dado alocado na memória de curto prazo.”
Ao longo de oito capítulos, o autor também ressalta a importância da neuroplasticidade (a capacidade que o cérebro tem de criar novas sinapses, remodelando-se conforme as experiências e circunstâncias), do esforço (a melhor forma de impulsionar o crescimento é elogiar a persistência e a dedicação, em vez da inteligência e do talento), do lazer intelectual (a bagagem cultural amplia horizontes e aprimora habilidades que o material didático tradicional não consegue alcançar) e da qualidade do sono (à noite, quando dormimos, nosso cérebro deixa de receber informações do mundo exterior e começa a processar a matéria-prima absorvida ao longo do dia).
A certa altura da obra, Marmelstein dá a real: “É ilusão achar que a aprendizagem ocorrerá apenas porque você está sentado com um livro na mão ou ouvindo um professor falar. Isso não pode ocorrer sem esforço cognitivo”.
Levar essa mensagem adiante é preciso.
Leia mais: Aqui estão 6 maneiras de usar o ChatGPT em sala de aula
***
SUPERAPRENDIZAGEM, por George Marmelstein
Editora: Objetiva
Ano: 2023
Páginas: 184
Preço: R$ 64,90
Tem uma sugestão de pauta? Quer compartilhar sua experiência em sala de aula, coordenação ou direção escolar, inspirando outros professores e gestores? Então escreva pra gente! Você pode fazer isso usando a caixa de comentários abaixo. Ou através de nossas redes sociais – estamos no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.