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Opinião

Como a violência escolar afeta a saúde mental dos docentes

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KARINA NONES TOMELIN
23/05/2023

Quando acontecem tragédias nas escolas, nós, professores, somos tomados por uma série de sentimentos nada agradáveis. Para começar, surge uma espécie de inquietação. É inevitável questionarmos como a escola, um espaço de formação, desenvolvimento humano e convivência, pode se transformar em um ambiente de dor e sofrimento. 

Ao mesmo tempo, temos a sensação de total impotência. Procuramos entender o que aconteceu de errado e o que poderia ter sido feito para que as coisas não chegassem a esse ponto. Diante disso, é inevitável sermos assolados pelo medo.

Tudo isso desencadeia uma onda de ansiedade, o que é totalmente compreensível frente às circunstâncias. Mas esse acúmulo de tensões acaba sobrecarregando os professores e potencializando o sentimento de frustração com a atividade docente. 

Em minha atuação frente a núcleos de apoio à comunidade escolar, não foram poucas as vezes em que educadores demonstraram preocupação com o comportamento agressivo de determinados estudantes. Às vezes, o relato vinha dos próprios colegas de classe, e o professor acabava se tornando porta-voz de uma realidade até então desconhecida. 

Em meio a ataques com esse nível de brutalidade, as denúncias só aumentam, assim como a espiral de sentimentos negativos. Diante desse cenário, nos deparamos com um questionamento que pede resposta imediata: o que fazer?

Para começar, é preciso entender que não estamos falando de episódios esporádicos. Nas últimas duas décadas, o Brasil registrou pelo menos 24 ataques a escolas, a grande maioria do ano passado pra cá. E esse crescimento está diretamente ligado à intolerância e à falta de empatia, sintomas de uma sociedade adoecida e mergulhada no extremismo.

Mas o que leva a toda essa violência? O filósofo búlgaro Tzvetan Todorov, já falecido, dizia que toda agressão não passa de um meio de buscar o reconhecimento. Muitas vezes, é uma maneira de chamar atenção e se “vingar” de um “superior”. Exatamente como certos alunos agem em relação aos professores. Hoje, infelizmente, esse “reconhecimento” é até estimulado por grupos organizados na internet.

Leia mais: O “S” de ESG – e o que isso significa para a educação

Outro ponto de vista interessante que pode lançar luz sobre o problema é o do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. Ele descreve o mundo em que vivemos como a “sociedade do cansaço”, marcada pela hiperconectividade, o excesso de informação e uma enorme cobrança por desempenho. Um mundo que não aceita a diferença e é pobre em alteridade.  

Por mais que cada ataque tenha uma motivação específica, está claro que diversos fatores precisam ser ponderados quando falamos de violência nas escolas. Não há uma única causa, assim como também não há um único culpado.  

Enquanto educadores, precisamos acolher e interpretar nossos próprios sentimentos e emoções frente a tais tragédias. O que estou sentindo e como isso afeta minha saúde mental? Compartilhar nossas preocupações com outros professores e gestores educacionais ajuda a nos organizar, encorajar e lidar com os sentimentos dos estudantes. E também com os nossos próprios.  

Na sala de aula, dependendo da faixa etária dos alunos, é possível ter uma conversa objetiva sobre civilidade digital, bullying, personalidade eletrônica, movimentos extremistas e estratégias de proteção. É importante compreender as angústias deles, com orientações que favoreçam a promoção do bem-estar de todos na escola. 

Sob o aspecto da segurança, não há dúvida de que estratégias e protocolos de gestão de risco devem ser implementados. Mas, como professores, precisamos falar de forma franca sobre o assunto e fortalecer essa rede de relacionamentos. Somente assim a escola poderá ser o ambiente acolhedor que desejamos para nós e para nossos alunos.

Leia mais: Como adotar práticas antirracistas em sala de aula

SOBRE A AUTORA

Karina Nones Tomelin é psicóloga, pedagoga e autora do livro 100 ideias inspiradoras para sua aula (editora Livramento, 2021). Também atua como palestrante e consultora educacional e professora do curso “Competências Socioemocionais para Docentes”, promovido pela Rhyzos Educação.


Tem uma sugestão de pauta? Quer compartilhar sua experiência em sala de aula, coordenação ou direção escolar, inspirando outros professores e gestores? Então escreva pra gente! Você pode fazer isso usando a caixa de comentários abaixo. Ou através de nossas redes sociais – estamos no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.    

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