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Opinião

O ensino bilíngue – e seus aspectos cognitivos e pedagógicos

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MARIA CLÁUDIA AMARO
24/11/2022

Nos últimos 20 anos, observamos, no Brasil, uma mudança de pensamento que reconhece e incentiva o multilinguismo brasileiro e que foi responsável por legitimar a educação bilíngue em diferentes contextos. É notável o crescimento do número de escolas bilíngues, sobretudo porque falar fluentemente um segundo idioma abre muitas oportunidades, como possibilidades de se acumular experiências, seja no Brasil ou no exterior. Mas este não é o único motivo que faz com que o bilinguismo represente uma tendência em ascensão.

Leia mais: O avanço do ensino bilíngue no Brasil. E os benefícios para escolas e estudantes

O aprendizado de uma língua não é feito sem objetivo ou estratégia, isso porque ele ocorre também como uma forma de conectar o aluno à sua realidade, proporcionando a reflexão sobre o seu lugar no mundo, expressão das suas emoções, bem como suas necessidades e seus desejos. Assim, o ambiente escolar é o principal responsável pelo desenvolvimento cognitivo, intelectual, mental e social de crianças e jovens. Entretanto, sabemos que essa experiência não se dá somente com disciplinas tradicionais (como português e matemática). É preciso ir além.

Este é um dos motivos pelos quais o bilinguismo vem se mostrando como uma prática que torna o processo de ensino mais significativo e engajador. Porque ele propõe aos alunos o aprendizado de dois idiomas ao mesmo tempo, e, de maneira imersiva, os alunos experienciam não só o processo de ensino aprendizagem em cada uma das línguas, mas também se expressam nas relações que o espaço escolar possibilita, para então reterem, compreenderem e se sentirem seguros no processo de comunicação. É essa conexão entre a expressão e o contexto que faz a aplicação do bilinguismo seja proporcional aos resultados fantásticos, no que tange aos aspectos cognitivos e pedagógicos.

Como vimos, os benefícios são muitos, e o desenvolvimento da habilidade metalinguística é uma delas, que consiste na associação de diferentes significados a um mesmo vocábulo. Essa capacidade auxilia a desenvolver melhor e mais rápido a leitura e escrita, por exemplo. Além disso, há um aprimoramento da atenção, utilizada para alterar a comunicação nos idiomas, conforme o contexto e necessidade dos estudantes. Outro ponto importante é que a melhora do foco é aplicado também em tarefas cotidianas.

Leia mais: “Precisamos de uma cultura de ensino-aprendizagem de idiomas no Brasil”

O bilinguismo permite às crianças aprenderem inglês de forma tão natural quanto o idioma nativo, falado em casa, havendo uma vantagem significativa sobre aqueles que vão estudar a língua um pouco mais tarde, quando o idioma nativo já se enraizou e o processo de aquisição da linguagem se consolidou. Isso porque os alunos são estimulados a pensarem e sentirem em dois idiomas em vez de apenas “traduzirem” o que dizem, lêem ou escrevem. É algo que aguça uma relação diferente e única com as situações que vivem em cada uma das línguas.

Outro ponto importante é que a educação bilíngue permite ainda uma adaptação mais natural a diferentes culturas, já que vai muito além da compreensão em outra língua. O bilinguismo pressupõe compreender todo o contexto que pode ser expresso por uma língua. Basta considerar uma língua falada em dois países diferentes, como, por exemplo, Brasil e Portugal. Percebe-se que muitos detalhes podem parecer pequenos, mas que fazem toda a diferença na forma de interpretar o mundo. A proposta do bilinguismo é reduzir ao máximo tais sutilezas, aproximando ao máximo dois idiomas naturalmente.

Sendo assim, é essencial desmistificar percepções equivocadas, como a crença de que aprender dois idiomas ao mesmo tempo pode causar confusão no processo de ensino das crianças. Hoje, sabemos que vários estudos demonstram o oposto: o conhecimento linguístico de uma língua ajuda no desenvolvimento do aprendizado da outra. Seja em relação às estruturas gramaticais, a criação de sentenças e ainda na formação das , há similaridades entre a língua portuguesa e a língua inglesa, por exemplo. E, inclusive, não há distinção entre as capacidades cognitivas das crianças, pois as habilidade de compreensão e pronúncia são inatas aos seres humanos num contexto em que tudo ocorre de forma orgânica ao longo do desenvolvimento escolar.

Sou uma verdadeira entusiasta da educação bilíngue. Estou certa de que, nos próximos anos, esta será uma tendência não apenas pelos caminhos que se abrem em termos de oportunidades futuras, mas também pela qualidade de aprendizado que pode propiciar.

Leia mais: Maria Cláudia Amaro: “A educação precisa decolar”

Sobre a autora

Maria Cláudia Amaro é CEO da Rhyzos Educação.


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