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Sala de aula eficaz

Quão importante é ensinar sobre crise climática na escola?

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LEONARDO PUJOL
13/09/2023

Em 26 de dezembro de 2004, uma menina inglesa de 10 anos, chamada Tilly Smith, estava de férias com sua família na praia de Maikhao, na Tailândia. Era um belo domingo de sol e tudo parecia absolutamente normal. Até que Tilly notou que a água estava estranha, com “borbulhas”.

“De repente, o mar começou a recuar. Compreendi o que estava ocorrendo”, disse ela, à época. “Tive a sensação de que ia haver um tsunami e avisei a minha mãe.”

A observação de Tilly não era trivial: ela tinha aprendido na escola como as ondas gigantes se formavam. Naquele ano, seu professor de Geografia havia dado uma aula sobre terremotos – e a forma como eles podem provocar maremotos. Ela soube que, a partir do momento que o mar recuasse, haveria 10 minutos para reagir antes da chegada do tsunami.

A família de Tilly alertou as pessoas da praia. Como resultado, ninguém morreu ou ficou gravemente ferido na praia de Maikhao – uma das regiões atingidas pelo imenso tsunami que, naquela ocasião, deixou 226 mil mortos na Tailândia e em outros 13 países.

Leia mais: A importância da educação para um meio ambiente sustentável

A importância de ensinar sobre crise climática na escola

A história de Tilly Smith revela o conhecimento poderoso que advém da sala de aula.

Só que em um mundo com fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes, as escolas precisam ir além de temas como eventos naturais, preservação do meio ambiente e comportamentos sustentáveis. A forte chuva que em fevereiro deixou 65 mortos no litoral de São Paulo e pelo menos 47 no Rio Grande do Sul, em setembro, servem de alerta.

É urgente falar sobre aquecimento global e mudanças climáticas.

Isso significa abordar em sala de aula temas como seca severa, chuvas torrenciais, deslizamentos, enchentes, inundações, incêndios florestais etc.

A ideia é ajudar crianças e adolescentes a entender:

  • O que caracteriza os eventos climáticos extremos;
  • Quais são os fenômenos extremos que o Brasil está sujeito;
  • O que fazer diante de situações como essas.

“As crianças têm poder de disseminação desse tipo de informação junto às famílias”, diz Pedro Luiz Cortês, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador em políticas públicas de combate às mudanças climáticas.

Em entrevista ao G1, Cortês sugere que esse tipo de educação comece a partir do Ensino Fundamental 2 e do Ensino Médio, de modo a preparar a nova geração para saber como enfrentar a emergência climática num futuro próximo.

Já a cientista de mudanças climáticas Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), disse ao Porvir que é importante ensinar sobre o tema desde os primeiros anos da escola fundamental.

Por onde começar? “Eu diria que a gente pode começar com o mais básico, que é fazer um levantamento de nascentes que secaram, do nível do rio que desceu. Aí é possível ver o quanto a vegetação reduziu na região.”, diz Gatti. “A partir disso, também é possível entender por que o clima está mudando e gerar motivação na turma.”

“É fundamental incluir essa discussão [da crise climática] dentro das escolas desde os níveis básicos, porque a criança vai ser o futuro cidadão e ela precisa saber que, para termos continuidade enquanto espécie, precisamos agir agora, e não daqui a 30 anos”, ressaltou Daniela Resende de Faria, doutoranda em Ensino e História de Ciências da Terra na Unicamp e professora do ensino básico, ao Nexo.

Entre as ações que os especialistas defendem estão projetos que incluam a fusão de disciplinas, como Ciências, História e Geografia – que, via de regra, não estão conectadas, mas que se interligam.

Poder público trabalha no tema

Documentos normativos, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), falam quase nada sobre a crise climática e como ela deveria ser abordada na escola. O tema é citado apenas três vezes, e de forma vaga na BNCC.

Para resolver o problema, a Comissão de Legislação Participativa, da Frente Ambientalista da Câmara dos Deputados, debate desde junho a construção de projeto de lei que institui o Programa Nacional de Educação Climática nas Escolas.

A ideia é contemplar os diferentes projetos sobre o assunto que tramitam na casa, mantendo a orientação da Lei nº 9.795/1999, que dispõe sobre a educação ambiental nas escolas.

A rigor, a educação climática não seria mais uma disciplina na grade curricular, mas tema a ser abordado em todas as matérias, preservando o conceito de transversalidade e interdisciplinaridade.

O objetivo é aprovar a nova lei antes da 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que será realizada em novembro de 2025 em Belém, capital do Pará.

Leia mais: “Precisamos de escolas que valorizem a conexão com a natureza”

A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul em setembro de 2023: crise climática deve entrar na pauta da escola. Crédito: SECOM/RS.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também disse, recentemente, que o debate sobre as mudanças climáticas deve entrar no currículo escolar.

“Se você não colocar na escola, você não cria uma geração de pessoas preparadas para educar os mais velhos e as futuras gerações. Nós vamos colocar no currículo escolar, essa é uma discussão que eu vou fazer com o ministro Camilo [Santana, do MEC], para ele fazer junto ao pessoal da educação, porque eu acho fundamental”, afirmou.

Em países da Europa e nos Estados Unidos as mudanças climáticas já entraram na grade curricular. O estado americano de New Jersey ganhou as manchetes em 2022 por ter sido o primeiro a instituir o ensino das alterações climáticas em quase todas as disciplinas – até mesmo em educação física.

Enquanto se espera do poder público brasileiro as diretrizes necessárias, resta às escolas públicas e privadas criarem seus próprios projetos para ensinar sobre a importância do meio ambiente e os efeitos das mudanças climáticas. Os jovens querem isso.

Um estudo da Lancet, que entrevistou 10 mil jovens com idades entre os 16 e os 25 anos em 10 países, incluindo o Brasil, descobriu que mais de metade sentia tristeza, ansiedade, raiva e culpa em relação às alterações climáticas. Eles estão vendo os impactos do aquecimento do planeta nas notícias e em suas próprias comunidades. Mas muitos se sentem desamparados e impotentes. 

Os jovens querem soluções – e querem fazer parte delas. É a oportunidade perfeita para as escolas.

Leia mais: Kátia Schweickardt: “A Amazônia tem muito a nos ensinar”

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