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Entrevista

Pesquisadora defende acessibilidade da cultura maker

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DANIEL SANES
15/09/2022

Em 2020, 71% dos professores entrevistados para a 1ª Pesquisa Nacional do Impacto do Ensino Maker na Educação disseram considerar a cultura maker uma importante ferramenta para melhorar o desempenho dos alunos. No entanto, a arte de colocar a mão na massa, construindo, reparando e modificando objetos, ainda não é uma realidade para grande parte das escolas brasileiras. Muito disso se deve à interpretação equivocada de que o método é sinônimo de recursos vultosos e ferramentas tecnológicas quase inacessíveis.

Como funcionária de uma empresa que oferecia soluções de cunho pedagógico para escolas públicas, a professora Bruna Braga de Paula percebeu que era importante desmistificar O conceito. “Trabalhava com uma proposta de aulas diferentes, com bastante ludicidade, quando surgiu a ideia de trazer a tecnologia para as aulas de Matemática, por meio de jogos”, explica ela. Os alunos, claro, adoraram. Mas a experiência não parou por ali.

A educadora entendeu que era viável adotar a cultura maker em diferentes situações, recorrendo a materiais e ambientes acessíveis. O resultado dessa imersão no tema está em sua dissertação de mestrado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em Cultura maker na educação: uma abordagem integrada ao ensino, Bruna analisa como essa metodologia ativa se faz presente na educação brasileira. Além disso, propõe uma série de atividades makers alinhadas às competências previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para serem desenvolvidas em sala de aula, desde a construção de robôs até a criação de uma mão biônica de papelão.

Por meio do trabalho, concluído em fevereiro de 2022, a pesquisadora identificou também a escassez de estudos e a defasagem da aplicabilidade da proposta nas escolas brasileiras. Em conversa com o Portal Rhyzos, Bruna fala um pouco sobre a realidade do cenário maker no País e avalia o que é necessário para mudá-la.

A entrevista foi editada para efeitos de clareza e concisão.  

O que a levou a pesquisar o cenário da cultura maker nas escolas brasileiras? Já trabalhava com essa metodologia?

Não atuava com a metodologia em si, trabalhava com a elaboração de jogos por meio de recursos sustentáveis e de baixo custo. A ideia da pesquisa surgiu da percepção de que as escolas públicas tinham dificuldade de acesso às novas propostas tecnológicas, não apenas pelas estruturas de seus laboratórios, mas também pelos materiais que em muitas das situações são necessários. Teve inspiração em um projeto que eu acompanhava e também nas mudanças no cenário educacional, em consonância com o documento normativo da Base Nacional Comum Curricular. O objetivo foi apresentar meios para que todas as escolas possam explorar a cultura maker em sala de aula, independentemente da infraestrutura.

Leia mais: Aprendizagem criativa: um novo jeito de preparar o futuro

Você é professora de Matemática nos anos iniciais. Como vê a receptividade das crianças à proposta de atividades makers?

As crianças gostam de propostas diferenciadas e inovadoras, principalmente quando atuam como protagonistas ou têm um desafio a ser resolvido. Elas gostaram das propostas trabalhadas, considerando ainda que estão colocando em prática os conceitos aprendidos nas aulas de matemática, além das suas habilidades.

Com base no que investigou, qual sua percepção sobre a adoção da cultura maker, sobretudo nas escolas públicas?

A adoção da proposta é muito baixa, considerando o número de escolas públicas que temos. Muitas desconhecem a metodologia e outras talvez considerem algo fora da realidade, trabalhoso, e acabam não tendo interesse em conhecer. Na análise de estudos na área no contexto escolar, apenas 112 títulos foram validados pelos critérios estipulados para contribuição no ensino. Desses, apenas 35,2% correspondiam a estudos que retratavam a aplicabilidade, pois os outros não faziam essa menção. Então, percebe-se que mesmo havendo estudos dentro dessa temática, ainda é um número muito baixo em relação às aplicabilidades nas escolas públicas e particulares do Brasil.

A cultura maker ainda é vista como sinônimo de investimentos altos e tecnologias de ponta. Sua dissertação, que resultou em diversas sugestões de atividades bastante acessíveis sobre o tema, é uma forma de tentar mudar esse olhar?

Por se tratar de uma abordagem que traz muitas aplicações com ferramentas tecnológicas de última geração, a ideia era justamente desmistificar essa referência que as pessoas têm. A proposta “colocar a mão na massa” parte de que é preciso resolver, criar ou consertar, e, para isso, não é preciso necessariamente de tecnologias de ponta e materiais de alto custo. A cultura maker está associada aos saberes que se dá em uma aplicabilidade, e não no uso das ferramentas. Claro, mostrar aos alunos que, em vez de uma régua e tesoura, poderiam utilizar uma cortadora laser, por exemplo, é interessante, mas a falta desse instrumento não impossibilita o desenvolvimento do projeto. O material com as atividades foi uma forma de mostrar que conseguimos desenvolver a cultura maker e promover iniciativas com os recursos e a infraestrutura presentes no dia a dia das escolas públicas brasileiras – assim como das particulares, quando não dispõem desse trabalho.

Leia mais: O que é um espaço maker. E como ele se aplica à educação

O que falta para que a cultura maker esteja mais presente no ambiente escolar?

Capacitação, suportes pedagógicos e formação continuada para os professores, para que possam aprimorar seus conhecimentos e colocar em prática em sala de aula. Todos os temas e habilidades podem ser desenvolvidos dentro dos projetos makers que a escola definir junto aos professores, focando na criatividade, na resolução de problemas e em habilidades sociais, entre outros conceitos que os alunos precisam assimilar.


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