Depoimento: “Precisamos de escolas preparadas para incluir alunos especiais”
SONIA MATANGRANO
09/05/2022
“Meu filho Rafael tinha 7 anos quando sua professora percebeu algo diferente. Era fase de alfabetização, mas ele tinha dificuldade na leitura, sociabilização e atenção, além de não identificar as cores corretamente. Inicialmente eu achava que era preguiça, mas a professora abriu meus olhos de que talvez fosse algo mais sério. Quando compartilhou suas impressões comigo, lá em 2011, fiquei sem reação. Não sabia o que fazer. No entanto, graças ao conselho dessa professora especial, recompus-me e fiz o que precisava ser feito: busquei mais informações.
Fiz todos os exames possíveis. Após muita investigação e consultas com diversos profissionais – neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, psicólogo e psicoterapeutas –, chegamos ao diagnóstico: TDAH, dislexia visual (algo raro, pois a mais comum é a escrita) e daltonismo em grau alto.
Não foi fácil digerir o diagnóstico, mas não podia ficar parada. Eu me cercava de livros, estudos, artigos e tudo mais que havia disponível para ajudá-lo. O Rafa tinha o próprio tempo para aprender, fazer provas e até mesmo colorir um desenho. Lembro que, inclusive, eu precisava escrever o nome da cor em cada lápis. Além disso, meu filho sofria bullying e era rejeitado pelos colegas de classe. Aquilo partia meu coração (acho que hoje, com a informação da inclusão mais disseminada, a reação dos colegas poderia ser diferente). A escola, infelizmente, não conseguiu ajudá-lo – embora estudasse numa escola particular de classe média alta.
O tratamento do Rafael começou com uma psicoterapeuta. A ideia era que ele aprendesse a ler de forma diferente, em função da dislexia visual. Para se ter ideia, o esforço de um disléxico visual para ler um parágrafo era equivalente a leitura de um livro de 30 páginas. O tratamento durou quase 2 anos, quando ele finalmente teve alta ao aprender a ler. Depois, iniciamos o acompanhamento psicológico e o uso de medicações, o que foi muito difícil: se você lesse a bula do remédio, jamais iria quer dar aquilo a criança alguma.
Um dos professores sabia das dificuldades do Rafa, mas outros a desconheciam – não parecia haver uma troca com os demais professores. Em uma das três instituições pelas quais passou, meu filho chegou a ter um tutor. Mas, no fim das contas, a criança ficava à mercê da boa vontade do corpo escolar.
Foi quando percebi que meu filho precisava de uma escola menor. Uma instituição onde ele fosse mais acolhido. As coisas melhoraram, mas longe do ideal. Então compreendi que as escolas não têm preparo para a inclusão. Faltava empatia. Foi desgastante, triste e frustrante.
Hoje, o Rafa tem 18 anos. Ele continua a conviver diariamente com seu TDAH e “anexos”. Dos tempos de escola, guarda pouco. Não houve vínculo afetivo nenhum por onde estudou. Isso afetou negativamente sua adolescência e futuro. A medicação continua, a terapia também. Mas ele hoje está muito melhor. É um rapaz saudável e feliz, que acabou de ingressar no curso de Design Gráfico de uma universidade de referência.
Gostaria que as escolas se preparassem para atender, acolher e incluir alunos com transtornos. Lei e declarações públicas não dão resultado. O que dá resultado é ação. As instituições precisam querer mudar e precisam treinar gestores, professores e demais funcionários para prover acolhimento e atender as necessidades de crianças especiais. É preciso empatia no acompanhamento e na integração dos alunos no processo de inclusão.
Ao longo dos anos, infelizmente nunca vi ou li a declaração de uma mãe que tenha tido uma boa experiência escolar com um filho especial. Espero que isso mude. O mais rápido possível.”
SOBRE A AUTORA
Sonia Matangrano, 53 anos, é publicitária – atua há mais 25 na área de Marketing de grandes empresas. Casada, é mãe do Rafael.