fbpx
Entrevista

“Gestor escolar precisa correr riscos. Do contrário, jamais vai inovar”

Compartilhe:

DANIEL SANES
13/12/2022

Os últimos anos foram de transformações profundas na educação. Impulsionada pelas metodologias ativas de aprendizagem, a tendência de um maior protagonismo dos alunos ganhou ainda mais força durante a pandemia, a partir da adoção de diversas ferramentas tecnológicas utilizadas no ensino remoto. 

Para as instituições de ensino, as mudanças se constituíram em um desafio: como mergulhar nesse novo universo sem se desvirtuar de sua proposta educacional?

Entender (e explicar) o panorama de constantes modificações  é o objetivo de “Perspectivas para uma educação transformadora – Como uma escola pode inovar sem perder sua identidade e propósito”, livro organizado pelos educadores Mônica Timm de Carvalho e Janio Alves e lançado pelo selo Penso. Os autores demonstram que, com uma estratégia bem definida, é possível implementar um plano pedagógico em consonância com as atuais demandas de aprendizagem. 

Ao longo de cinco capítulos,  os autores abordam temas como liderança e gestão de mudança. A iniciativa é calcada em pilares os quais envolvem uma formação sólida dos professores, personalização do ensino e o desenvolvimento das habilidades para o século 21. Mais do que um estudo de caso, a obra serve como inspiração para quem entende que a educação precisa ser um agente de transformação social. 

Especialista em gestão empresarial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestra em gestão educacional pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Mônica Timm de Carvalho atualmente é CEO da plataforma digital de leitura Elefante Letrado. Em entrevista ao Portal Rhyzos, ela fala sobre temas como inovação no ensino, engajamento de alunos e o novo papel do educador.

A entrevista foi editada para efeitos de clareza e concisão. 

Leia mais: Os melhores modelos de avaliação na educação do século 21

Uma passagem interessante da obra enfatiza que “tédio é um estado de espírito quase desconhecido por quem está inovando em educação”. Levando isso em conta, como fazer com que um gestor escolar “vire a chave” e não desista de inovar?

Primeiramente, é preciso que aceite correr riscos. Do contrário, jamais vai inovar. Nesse sentido, é oportuno sensibilizar os gestores para o fato de que, se não inovarem, serão os grandes responsáveis pela perda da relevância de suas organizações. A “virada de chave” acontece quando há consciência na gestão escolar de que não é possível parar no tempo e ficar apenas repetindo fórmulas exitosas do passado. A tensão diante das oportunidades e dos riscos é o que acaba por trazer valor e os pretendidos resultados educacionais.

Cada vez mais falamos sobre o uso de tecnologias e metodologias ativas na educação. No entanto, apenas a utilização desses recursos, sem planejamento estratégico, não é suficiente. Na sua opinião, as escolas brasileiras já entenderam isso? 

Em regra, o segmento educacional no Brasil ainda não conseguiu estabelecer bases inovadoras para a gestão escolar. A clássica divisão entre o administrativo e o pedagógico, por exemplo, é uma das marcas mais visíveis de uma “desintegração sistêmica”. Apesar de haver discursos que evocam diálogos e conhecimentos interdisciplinares na escola, o fato é que ainda há o receio de se buscarem contribuições de outras áreas do conhecimento para iluminar os fazeres em uma instituição de ensino. Isso acontece tanto no nível de posicionamento da escola (são poucas as referências que extrapolam às contribuições da  pedagogia) quanto na organização do currículo (ainda pouco afeito aos achados das neurociências, do design e com um quase desprezo a uma educação baseada em evidências).

Leia mais: Pesquisa investiga cultura maker nas escolas brasileiras 

A “educação bancária”, como definiu Paulo Freire, e uma visão pautada pela lógica industrial tornaram o processo de aprendizagem repetitivo e desinteressante para os alunos. Como engajá-los e fazer com que se sintam incluídos?

Acredito fortemente que esse engajamento só seja possível quando houver uma ressignificação do espaço da presencialidade na sala de aula. Aprendemos com a pandemia o quanto são especiais o olho no olho, a troca, a convivência, a construção coletiva. Também aprendemos que é possível, de forma híbrida, usar as novas tecnologias para personalizar mais o ensino, tornando os estudantes protagonistas de suas trilhas de aprendizagem. Então que a escola deixe de usar as aulas presenciais para simplesmente manter alunos sistematizando conteúdos por meio de exercícios monótonos. Não há a necessidade da presença física de todos para algo assim acontecer. Que as aulas presenciais sejam mais um espaço de problematização e de levantamento de hipóteses, do que o locus da repetição. Essa pequena mudança de perspectiva por certo concorreria para uma grande mudança na forma como os estudantes se envolvem na busca pelo conhecimento. 

Na educação tradicional, o ensino é voltado para a figura do educador. No novo paradigma, centrado na aprendizagem, ele passa a ter o papel de mediador. Ainda há resistência ou dificuldade dos docentes de compreenderem esse papel?

Mais do que resistência, vejo que há falta de repertório. Nós, professores, fomos ensinados a ensinar a repetir, e não a ensinar a perguntar. Essa nova perspectiva didática é bem mais complexa de ser empreendida, exigindo uma alteração radical nos currículos voltados à formação docente.

Qual a importância da avaliação no processo de transformação educacional? E por que o sistema tradicional é considerado defasado?

Sem avaliação do impacto da docência, não há compromisso com a aprendizagem que se sustente. Assim, mais do que avaliar o desempenho dos estudantes, é fundamental que se avalie a efetividade das práticas pedagógicas para a promoção da aprendizagem. Todos podem aprender. O que precisamos entender é que o professor deve ser um especialista na promoção da aprendizagem. Como esse tipo de avaliação ainda é algo distante da realidade das escolas, a dificuldade em corrigir rumos é a tônica, e a defasagem educacional, uma rotina.

Leia mais: Reforço e recomposição escolar: essenciais à educação do presente


Perspectivas para uma Educação Transformadora: Como uma escola pode inovar sem perder sua identidade e propósito, por Mônica Timm de Carvalho e Janio Alves
Editora: Penso
Ano: 2023
Número de páginas: 96
Preço: R$ 65,00


Tem uma sugestão de pauta? Quer compartilhar sua experiência em sala de aula, inspirando outros professores? Então escreva pra gente! Você pode fazer isso usando a caixa de comentários abaixo. Ou através de nossas redes sociais – estamos no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.    

Compartilhe:
,

Comente

Ainda não possui comentários

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens Recentes

Entenda alguns recursos inovadores que são essenciais para o desenvolvimento profissional dos professores

Leia mais

Tendências na educação para 2024

Leia mais

Educação holística: a importância de considerar o aluno em sua totalidade no processo educativo

Leia mais

Reflexões sobre o ano: uma análise dos maiores desafios e conquistas na educação em 2023

Leia mais

Implementando práticas sustentáveis na escola: um olhar para o próximo ano

Leia mais

Ebook

O Professor 5.0

Postagens Populares

1

Entenda alguns recursos inovadores que são essenciais para o desenvolvimento profissional dos professores

Leia mais
2

O “S” de ESG – e o que isso significa para a educação

Leia mais
3

Como garantir a inclusão de alunos neuroatípicos na escola

Leia mais
4

Feiras de ciências: cinco eventos para ficar de olho em 2023

Leia mais
5

As três escolas brasileiras que estão entre as 50 melhores do mundo

Leia mais