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Sala de aula eficaz

Por que o futuro da educação passa pela cultura maker

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REDAÇÃO RHYZOS
11/05/2023

Se achar que precisa voltar, volte
Se perceber que precisa seguir, siga
Se estiver tudo errado, comece novamente
Se estiver tudo certo, continue
Se sentir saudades, mate-as
Se perder um amor, não se perca
Se o achar, segure-o

Foi assim que o professor de Matemática Antônio Victor Gomes abriu sua participação na Bett Brasil 2023, na terça-feira, 9 de maio, em São Paulo: recitando versos do poeta português Fernando Pessoa.

“Por incrível que pareça, essa poesia resume o conceito de cultura maker: não há um caminho fixo e predeterminado. Você pode cometer erros e, assim como na vida, isso faz parte do processo de adquirir um novo conhecimento ou habilidade”, afirmou o professor, que leciona no campus Mauá (SP) da Coleman The World School, escola de ensino bilíngue referência em práticas educacionais inovadoras.

Durante a palestra “O futuro da educação: como a tecnologia pode ajudar a transformar a forma como aprendemos”, Gomes lembrou como sua formação no ensino médio teve por base aulas tradicionais expositivas, em que os alunos eram meros observadores.

Foi passando para o “outro lado” (isto é, o de professor) que ele percebeu o quanto o modelo era ultrapassado. E mencionou o caso de um aluno que “praticamente só dormia em sala de aula”, mas resolvia qualquer cálculo sem dificuldades. Desconfiado, decidiu investigar.

Descobriu que o rapaz estava usando um aplicativo que fotografava as questões e, posteriormente, mostrava os problemas solucionados. Ao ser questionado sobre a “farsa”, o estudante foi sincero: “professor, eu quero ser jogador de futebol. Você acha que para isso tenho que calcular logaritmos?”.

Gomes deu razão ao aluno. “Aquilo não tinha conexão com a vida dele, com sua realidade e suas paixões. E isso é exatamente o que está acontecendo com a nossa educação”, lamentou.

Leia mais: O que esperar da Bett Brasil 2023

Repensando a aprendizagem

Para o educador, não se trata de “resetar” totalmente o sistema educacional como conhecemos, mas de repensar as trilhas de aprendizagem. Só assim será possível prender a atenção dos alunos em tempos de hiperconexão.

O primeiro passo é conhecer os interesses dos jovens. Por exemplo: se o que cativa o estudante é um game, o ideal é recorrer a essa linguagem para se conectar com ele. “Precisamos entender como isso funciona e fazer um link entre o conteúdo formal e aquilo que faz sentido no universo do aluno”, observou.

Por acharem que o conteúdo não “dialoga” com eles, alguns estudantes agem exatamente como o menino que queria ser jogador de futebol.  “A grande questão é: como eu vou aplicar esse conhecimento na minha vida? Essa é a pergunta que todos os professores e instituições de ensino têm que saber responder.”

Leia mais: Pesquisa investiga cultura maker nas escolas

Com a mão na massa

Gomes acredita que a cultura maker é a saída para uma educação mais propositiva, por se tratar de algo próximo da rotina. “Se você construir algo que tenha um propósito, você é um maker, ou fazedor. Culinária, jardinagem, costura, construção de robôs ou instrumentos musicais… Tudo isso é cultura maker.”

Uma das principais vantagens dessa cultura é incentivar os alunos a colocarem a mão na massa desde o início, pois errar faz parte do processo. Na palestra, Gomes utilizou o ensino de música para explicar como o método pode ser aplicado.

“Aprender música significava ler partitura, o que demanda memorização, raciocínio lógico, uma série de habilidades do nosso neocórtex cerebral… Agora, imagine se o professor incentivá-lo a tocar um instrumento logo de cara. Você consegue ouvir a melodia, assimilar o ritmo e talvez até ensinar um colega. Primeiro a parte prática, depois a teoria. E, em vez de memorizar, você internaliza esse conhecimento, pois já colocou a mão na massa!”, argumentou. “Isso vale para tudo, desde a construção de um banquinho de madeira até a programação de um robô.”

O educador ainda destacou que a cultura maker tem tudo a ver com diversas competências previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como criatividade, autonomia e resolução de problemas. E também “cai como uma luva” no chamado STEAM – sigla em inglês para a integração de conhecimentos em áreas distintas como ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática.

 “Eu acho muito legal esse termo ‘artes’ aí no meio, porque dá outro sentido ao aprendizado: a experiência de estar em sala de aula pode ser tão apaixonante como a de estar em um concerto musical ou uma peça de teatro”, comparou.

Gomes ainda defendeu que os educadores devem atuar como mentores, direcionando as atividades conforme aquilo que o aluno quer aprender, e desenvolver a habilidade de solucionar conflitos.

“É importante mudar o mindset do professor, porque ele deve não ser apenas um detentor de conhecimento, mas o mediador da parte socioemocional. A cultura maker tem como uma de suas propostas o trabalho em grupo, o que significa que inevitavelmente surgirão conflitos de ideias. Cabe ao professor apontar soluções, indicar caminhos e possibilidades diferentes, concluiu.

Maior evento de educação e tecnologia da América Latina, a Bett Brasil vai até sexta-feira (12), com ampla programação de palestras e atividades no Transamerica Expo Center, em São Paulo. Confira a programação no site.

Leia mais: 5 mitos e verdades sobre a educação maker


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