Escola como espaço de cura
CAROLINA CAMPOS 06/10/2022
A pandemia alterou significativamente as nossas relações, e a escola, talvez, tenha sido um dos espaços mais afetados.
Os praticamente dois anos de aulas remotas, o distanciamento social numa área que exige tanta conexão, o aprofundamento das desigualdades educacionais, o crescimento vertiginoso dos casos de violência escolar e problemas de saúde mental… tudo isso afetou a forma como nos relacionamos dentro da escola. Daí vários países clamarem por um novo modelo de educação, por uma estrutura que repense o propósito de educar, e por uma escola que, para além de ensinar as disciplinas propedêuticas, seja também um espaço de humanização.
O assunto não é exatamente novo, mas agora está tendo um novo olhar. Há muito tempo se fala sobre as competências socioemocionais, que por várias vezes ganharam nomes e roupagens diferentes. No entanto, o que antes era visto como uma resposta às necessidades da escola, agora se mostra insuficiente para solucionar as demandas que vieram no pós-pandemia.
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Por isso, distinguir entre socioemocional e saúde mental é algo urgente: enquanto as socioemocionais são competências ensináveis e de responsabilidade da escola, a saúde mental é algo muito maior. Embora não seja de responsabilidade direta da escola, é fato que o ambiente escolar pode promover saúde mental, ao criar ambientes positivos e comunidades acolhedoras.
Entenda a escola como espaço de cura
Vamos aqui chamar esse espaço cuidadoso, perceptivo e atento, de “escola como espaço de cura”. Esse conceito, que é amplo, pode ser resumido em cinco eixos estruturais:
- Foco nas pessoas: escolas são formadas por pessoas e para pessoas. Por isso, colocar o foco no bem-estar e na criação de uma comunidade positiva que gere segurança e senso de pertencimento, é essencial. O engajamento da comunidade maximiza a conexão entre as pessoas, que por sua vez, contribui positivamente para o avanço e a aprendizagem dos alunos.
- Excelência nos processos de aprendizagem: quando alunos tem a oportunidade de se engajar em atividades que são do interesse deles, e que são importantes para eles, o bem-estar dessas crianças e adolescentes aumenta significativamente. Alunos assim contribuem para o seu próprio bem-estar, para o bem-estar de seus colegas, de toda a escola e da comunidade. O currículo precisa contemplar essa forma diferenciada de se pensar educação, incluindo questões socioemocionais e atividades extracurriculares.
- Excelência nos processos de ensino: professores que recebem formação continuada sobre didáticas específicas e sobre como lidar com questões traumáticas, podem criar ambientes seguros e saudáveis, além de se sentirem realizados e positivamente impactados pelo seu trabalho. Ao compreenderem que o cérebro precisa de calma, ordem e segurança para se abrir para o aprendizado, os professores conseguem extrair o melhor de seus estudantes.
- Excelência nos processos de liderança: gestores escolares são peças fundamentais para o desenvolvimento de comunidades positivas. Por isso, devem buscar redes de apoio e o desenvolvimento da mentalidade de crescimento do seu time. Saber identificar e lidar com questões de ética em educação e logística do espaço escolar também pode ser transformador dentro da escola como espaço de cura.
- Outros pontos que são afetos à escola: para além de tudo o que foi dito, uma escola curativa olha cuidadosamente para questões de inclusão e pertencimento, equidade, mudança climática, democracia e mundo digital. Esses temas são absolutamente importantes dentro de uma escola que se pretende ser acolhedora.
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Sobre a autora
Carolina Campos é educadora e CEO do Vozes da Educação. Ela pode ser encontrada nas redes sociais em @carolcampos.educa e @vozesdaeducacao_
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