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Entrevista

7 perguntas para a presidente do CNE sobre o ano letivo de 2022

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LEONARDO PUJOL
11/03/2022

O ensino presencial está de volta. Dois anos depois do início da pandemia, com boa parte da população imunizada, a maioria das escolas se sente segura suficiente para a retomar a rotina no Brasil. O ano letivo de 2022 já está em curso, e isso é um alento e tanto. Afinal, privados de seu desenvolvimento intelectual e social, crianças e jovens estiveram entre os mais prejudicados pela crise sanitária.

Além da evasão, a suspensão dos encontros presenciais acentuou a defasagem educacional. O número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabem ler nem escrever cresceu 66,3% durante a pandemia, subindo para 2,4 milhões, segundo a ONG Todos Pela Educação. Na rede estadual de São Paulo, o retrocesso na aprendizagem é de até 10 anos nas crianças dos anos iniciais. Nos anos finais do ensino fundamental, a proficiência em Língua Portuguesa e Matemática pode sofrer atraso de até quatro anos, conforme a FGV EESP Clear e a Fundação Lemann.

Para o ano letivo de 2022, é importante que as escolas promovam a formação continuada de professores e deem atenção ao desenvolvimento de competências socioemocionais. Acima de tudo, é imperativo realizar uma avaliação diagnóstica que seja capaz de identificar as condições de cada estudante, defende Maria Helena Guimarães de Castro. Em entrevista ao Portal Rhyzos, a atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) explica por que o diagnóstico avaliativo é tão importante e oferece ideias para combater o déficit de aprendizagem.

A entrevista foi editada para efeitos de clareza e compreensão.

***

Rhyzos Educação – O ensino presencial está de volta em um cenário bem diferente do Brasil pré-pandemia. Como os professores chegam ao ano letivo de 2022?

Maria Helena Guimarães de Castro – O importante ainda é desenvolver habilidades digitais, que são essenciais para a elaboração dos currículos. Dentro desse contexto, é preciso esforço para dar prioridade à formação continuada dos professores, para que eles aprendam a lidar com metodologias ativas, pedagogias inovadoras e novas tecnologias. Que possam complementar as atividades presenciais com as não-presenciais, realizadas on-line. E, principalmente, que saibam fazer uma boa avaliação diagnóstica, compreendam o resultado e considerem-no em seus planos de aula. Não adianta nada o professor começar 2022 como se nada tivesse acontecido desde 2020.

Por que a avaliação diagnóstica é tão importante?

Porque os alunos não aprenderam no período de pandemia, sobretudo os alunos menores. Há pesquisas que mostram isso. Em São Paulo, as crianças dos anos iniciais registram em 2021 o mesmo desempenho de 2011. Eu sei que 17 estados brasileiros fizeram a avaliação diagnóstica, identificaram grandes problemas de aprendizagem. Sei que alguns estados tiveram melhores condições para apoiar os alunos, outros menos. Mas um bom retorno às aulas requer uma atenção grande com avaliação diagnóstica. O uso de evidência é indispensável para orientar o trabalho do professor, recompor as aprendizagens pelo aluno e até mesmo promover o reencantamento da escola, especialmente com os estudantes mais velhos. Eles perderam o vínculo com a rotina escolar durante a pandemia. Precisamos reengajá-los.

Em entrevista por videochamada, Maria Helena Guimãres de Castro, presidente do CNE, avalia ano letivo de 2022. Crédito: reprodução.

Qual seria o redesenho ideal da escola ou do currículo, na visão do CNE?

O que recomendamos (Parecer nº 6/2021) no ano passado foi o contínuo curricular 2021 e 2022. Ou seja, a integração de três semestres até o fim de 2022 para dar ênfase no que é mais importante para o desenvolvimento dos alunos. O ponto de partida é a avaliação diagnóstica, para identificar o que os alunos aprenderam e começar 2022 ensinando aquilo que deixaram de aprender. Por isso, sugerimos a revisão da proposta curricular, pois sabemos que dificilmente as escolas conseguirão dar conta de todo o currículo previsto para este ano. Uma situação de normalidade, atendendo todo o conteúdo de um ano, só deve ocorrer em 2023. Agora, o importante é recompor as aprendizagens. Especialmente as que são relacionadas às habilidades básicas de leitura, escrita e conceitos básicos de matemática, conforme a faixa etária.

2022 é o ano derradeiro para a implementação do novo ensino médio. Alguns especialistas acham um pouco difícil implementar em 100% das escolas neste ano. Qual é a sua perspectiva?

Todos os estados estão se preparando para o novo ensino médio. A maioria, inclusive, está com os currículos aprovados, homologados e já fizeram a capacitação dos professores, para começar a implementação no primeiro ano de 2022. O primeiro ano é o de formação geral básica, de revisão de conteúdos e de começar a trabalhar o projeto de vida dos alunos. Acredito que os itinerários formativos devem começar a partir do ano que vem. Essa é a tendência predominante. 

Falando em ensino médio, pesquisas da Unesco e do Instituto Península chegaram à conclusão de que os jovens brasileiros preferem trabalhar em áreas da saúde, tecnologia ou engenharia, em vez de fazer carreira no setor de educação. O Brasil corre risco de um apagão de professores no futuro?

Sim, essa é uma preocupação. De fato, muitos estudos sugerem um desinteresse dos alunos do ensino médio pela carreira de professor. Os jovens sentem que a carreira docente não é boa, o salário é ruim e a rotina é pesada. Para atraí-los, é preciso uma política de valorização dos professores. Criar, desde o ensino médio, estratégias que mostrem a relevância dos professores para o futuro do Brasil, na formação de todos os profissionais de todas as áreas. E também uma ação de valorização do magistério, com políticas públicas que ofereçam melhores salários, por exemplo.

Mas, hoje, existe um apagão de profissionais?

Por enquanto, não. O que temos é falta de professor formado nas áreas em que lecionam. Existe uma escassez de professores devidamente qualificados para lecionar aulas de matemática, língua inglesa, geografia e por aí vai. Há profissionais formados em Pedagogia que dão aula de ciências. Quer dizer, não têm formação específica, nem sequer uma licenciatura na área. E esse quadro contribui para o que eu considero o maior problema da educação brasileira: a baixa aprendizagem.

E como solucionamos esse problema?

A saída é formação continuada de professores, para que trabalhem os currículos de forma mais adequada. Eles precisam ter formação adequada, compartilhar boas práticas entre pares e, obviamente, precisam de bons materiais didáticos e pedagógicos. Você coloca tudo isso junto com a avaliação diagnóstica, que gera evidências para implementação de novos currículos, e teremos um ambiente de aprendizagem muito melhor.


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