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Entrevista

O ensino presencial está acabando? Thuinie Daros diz que não

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LEONARDO PUJOL 
09/01/2023

O Brasil tem quase 9 milhões de alunos matriculados no ensino superior. Do total, 6,9 milhões (76,8%) estavam da rede privada, que registrou um feito inédito: viu o número de matriculados em cursos de educação a distância (EaD) superar o contingente da modalidade presencial

Os dados são do Censo da Educação Superior 2021. Divulgado em novembro de 2022 pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), uma autarquia do MEC (Ministério da Educação), o levantamento constatou 3,54 milhões de alunos na EaD (51%) ante 3,36 milhões no presencial (49%). 

Essa maior distribuição na EaD nunca tinha acontecido, embora não seja nenhuma surpresa. O número de ingressantes na modalidade a distância vem apresentando forte crescimento – aumentou 474% somente na última década. Enquanto isso, nas graduações presenciais, o ingresso entre 2011 e 2021 caiu 23,4%. 

O movimento é ainda mais forte no campo da licenciatura, onde 77% dos alunos já optam por cursos EaD. “O futuro professor, que vai atuar na educação básica no Brasil, vai ter passado por uma formação a distância. Esse é um ponto muito importante”, comentou Carlos Moreno, presidente do Inep. 

Mas isso não significa que o ensino presencial está acabando. A afirmação é de Thuinie Daros, que é diretora de planejamento acadêmico na Vitru Educação e autora dos livros A sala de aula inovadora e A sala de aula digital. Nesta entrevista ao Portal Rhyzos, ela analisa o movimento – e ressalta a importância de uma educação baseada em metodologias ativas na era digital. 

Rhyzos Educação – O ensino presencial está acabando? 

Thunie Daros – Quem atua como gestor ou professor do modelo presencial sente na pele o aumento da competitividade no mercado educacional. O aumento de cursistas da modalidade EAD, o crescimento da geração nem-nem (que nem trabalha, nem estuda), as mais de 2 mil instituições de ensino superior (IES) privadas no País e as condições de pagamento cada vez mais facilitadas, e com ações mercadológicas agressivas, são elementos que explicam a diminuição significativa de estudantes no presencial. Mas não acredito no fim da modalidade, e sim na necessidade iminente de transformação do atual modelo acadêmico para manter o diferencial competitivo. 

Leia mais: Rhyzos promove 2ª Jornada CriAtiva sobre tendências educacionais no Brasil

EAD cresceu 474% na última década. Crédito: Marcos Santos/USP Imagens.

Isso significa investir em metodologias ativas de aprendizagem? 

O ensino essencialmente transmissivo, que tem o professor como detentor do conhecimento e o estudante inserido em um processo de memorização e reprodução por meio de baixa ou nenhuma participação, já não é suficiente para atender às necessidades das novas gerações. Na verdade, nem pode ser considerada uma abordagem capaz de acompanhar as evoluções do mundo atual. Nesse sentido, as metodologias ativas são excelentes. Elas são capazes de gerar maior aprendizagem devido à prática de seus princípios, como o protagonismo estudantil, o trabalho em grupo e a resolução de problemas reais. 

O que o educador precisa considerar ao selecionar uma metodologia ativa? 

Deve-se respeitar a dinamicidade do ambiente usado no processo de aprendizagem. Em um cenário de maior interação virtual, recursos como aplicativos, realidade aumentada e virtual, jogos digitais, atividades gamificadas e desafios imersivos são ferramentas que podem compor o planejamento do professor para o fomento de uma aprendizagem cada vez mais ativa.

Você tem um olhar apurado para analisar a aprendizagem no ensino superior, mas e quanto ao ensino básico. O que você pode falar sobre desafios e boas práticas? 

Fui professora da educação básica por 12 anos. Quando observamos os fenômenos sociais atuais, é perceptível que a solução de muitos problemas já existentes dependerá da capacidade de pensar de modo diferente do convencional. A ideia é ser capaz de criar novos futuros. Acho que em 2023 ouviremos bastante sobre a necessidade do desenvolvimento de uma mentalidade criativa e resolutiva nos estudantes. 

Leia mais: Como o professor, em cada turma e escola, pode nutrir o pensamento criativo

Como se desenvolve essa mentalidade criativa? 

Ela é impulsionada pelas características dos novos modos de viver da contemporaneidade. É movida pela gestão das possibilidades, das alternativas, da velocidade de geração de valor e diferenciais gerados pela ação coletiva. Isso significa que, para navegar neste mundo do trabalho – fluido, aberto e instável –, será uma das habilidades mais importantes daqui para frente. Por isso, como professor da educação básica e gestor educacional, é fundamental preparar os professores para criar condições de desenvolvermos a mentalidade criativa nos estudantes.

Você pode falar um pouco mais sobre os desafios e tendências para a educação em 2023? 

Sabemos que a pandemia alterou os processos educativos. A necessidade de restabelecer vínculos, o acolhimento, a recuperação de possíveis déficits na aprendizagem, a permanência e o sucesso do estudante, a adaptação numa nova rotina, a imersão tecnológica: tudo isso constituiu os grandes desafios de 2022. Para o ano letivo de 2023, os desafios serão outros. Comentei sobre eles – e indiquei as tendências educacionais de 2023 – no ebook que o leitor pode baixar no site da Rhyzos

Leia agora: Os desafios e as tendências da educação para 2023


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