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Entrevista

Efosa Ojomo e o paradoxo da educação brasileira

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ANA CAROLINA STOBBE
22/04/2022

Em seus artigos para o Instituto Christensen, uma organização sem fins lucrativos voltada à inovação disruptiva, o pesquisador nigeriano Efosa Ojomo afirma existir um paradoxo na educação brasileira. Isso porque o país investe proporcionalmente mais no setor do que outras nações sul-americanas. Um exemplo disso é o Chile, onde 5,4% do PIB é destinado à educação e as taxas de escolaridade estão uma geração à frente do Brasil, que investe 6%.  

Para Ojomo, líder do grupo de pesquisa Global Prosperity, as ações públicas de educação devem ser pensadas “de dentro para fora”, ou seja, considerando as necessidades específicas de cada escola e região. Um exemplo positivo dessas estratégias acontece no Ceará, onde foram desenvolvidas iniciativas próprias pela administração municipal. O resultado é a conquista de um dos melhores índices de educação do Brasil: de acordo com o último Sistema de Avaliação da Educação Básica, o estado obteve os melhores índices de alfabetização do país.

Além disso, a pandemia e a implantação do novo Ensino Médio estão entre os principais desafios da educação brasileira na atualidade, segundo Ojomo. Acompanhe a entrevista concedida com exclusividade ao Portal Rhyzos.

***

Rhyzos Educação – O Brasil está implementando um novo Ensino Médio. Um dos pontos de destaque são as oficinas previstas em currículo, para as quais muitos professores podem ainda não estar devidamente preparados. Como a escola pode ajudá-los nesse sentido?

Efosa Ojomo – O tempo e as pesquisas demonstram que os professores são muito importantes para a saúde de uma escola. Se está sendo lançado num novo currículo e os docentes não se sentem preparados para desenvolver as oficinas, então essa iniciativa não funcionará. Apesar disso, existem três ações que podem ser desenvolvidas a fim de solucionar o problema. Primeiro, reunir-se com os professores e entender as suas capacidades e as lacunas que devem ser preenchidas. A segunda coisa é aproveitar tecnologias que podem auxiliar a resolver as lacunas. Por fim, é necessário fazer testes com essas tecnologias em sala de aula. Uma delas é a plataforma Mind Lab. Com ela, as escolas conseguem reunir mais de 5 milhões de estudantes que aprenderam usando o modelo, e a um custo baixo. Ela ajuda a desenvolver competências cognitivas, sociais, emocionais e éticas. Um dos diferenciais do Mind Lab é o desenvolvimento de jogos que podem ser usados para engajar os alunos e permitir que eles simulem situações do cotidiano. Ao criar uma tecnologia que não depende da internet ou mesmo de ter um computador, escolas e estudantes podem integrá-la melhor nas suas vidas.

A educação no Brasil retrocedeu na pandemia. No estado de São Paulo, por exemplo, foi identificado que 97% dos estudantes de escolas públicas deixaram o Ensino Médio sem conhecimentos adequados em Matemática. Quais estratégias o país pode adotar para resolver problemas assim?

Está claro que a solução para o paradoxo da educação brasileira pode não ter a ver com investir mais na educação. O Brasil já gasta mais dinheiro na área em relação ao seu PIB do que seus vizinhos da América Latina, e seus resultados são piores. Esse é o seu paradoxo. Muitos dos recursos brasileiros são investidos no Ensino Superior, o qual é limitado para pessoas que possuem dinheiro.

“Para resolver os problemas, o Brasil precisa primeiro realizar um diagnóstico sobre os seus gastos. Em seguida, realocar parte dos fundos de educação para o Ensino Fundamental e Médio. Dessa maneira, o país começará a ter algum progresso na resolução do seu paradoxo.”

Por exemplo, o estado de Goiás desenvolveu programas de apoio aos professores, instituiu o desenvolvimento profissional deles e aumentou os salários. Os resultados dessa realocação de recursos valeram a pena. Ao focar nos processos, e não apenas nos recursos, o Brasil pode melhorar sua educação.

Por que o sistema educacional no Brasil, na sua opinião, é pior do que o de países como o Peru e o Chile?

Esse é um assunto complexo. O governo brasileiro é incrivelmente complexo, e assim é o seu sistema educacional. De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o sistema educacional no Brasil, o país “tem uma estrutura governamental complexa, refletindo parte do seu tamanho e diversidade… O Brasil ainda carece de um sistema nacional que defina claramente e harmonize os papéis e responsabilidades dos diferentes níveis de governo, estabelecendo de que maneira eles devem trabalhar juntos para implementar a política educacional… Essa falta de coordenação, muitas vezes leva a uma sobreposição ou duplicação do trabalho, ineficiências e lacunas no fornecimento de educação”. Por essa complexidade, o Brasil gasta mais do que seus vizinhos tentando consertar a educação, sem mencionar a vasta desigualdade do país.

As estratégias de “dentro para fora” mencionadas em seus textos são ações em nível governamental que levam em consideração as particularidades locais de onde serão implantadas. Como os gestores de escolas devem participar da criação dessas estratégias?

Muitos governos são naturalmente reativos. Logo, não arriscam. Essencialmente, os governos precisam ver uma solução funcionando antes de adotá-la. Ao documentar essas soluções, providenciando exemplos e mostrando ao governo que o progresso é possível, os gestores escolares podem convencer os membros do governo de que a mudança pode acontecer. Outro jeito é focar em testes de tecnologias baseadas em soluções ou programas que podem ter grande valor.

“Ao criar pequenos pilotos usando a tecnologia para resolver problemas específicos, os gestores escolares podem introduzir novas maneiras de fazer com que os estudantes aprendam por uma fração do custo das atividades correntes.”

Existem ações de nível institucional que as escolas podem realizar para melhorar a educação do Brasil sem precisar esperar pelo poder público?

Essa é a abordagem baseada na inovação. Uma escola pode, primeiro de tudo, avaliar seu modelo de negócios – seus recursos, processos, proposta de valor, fórmula de lucro e prioridades – e então ver onde existem oportunidades para uma melhora. Agora, nós estamos trabalhando em um artigo científico chamado Leveraging technology to solve Brazil’s education paradox [Alavancando a tecnologia para resolver o paradoxo da educação no Brasil, em tradução livre]. Quando ele for publicado, vamos destacar como as escolas podem aproveitar as plataformas de educação como a Mind Lab para melhorar seus resultados de aprendizagem.

O senhor enxerga alguma perspectiva de melhora na educação brasileira?

O Brasil é um país incrível e com muito potencial. Seu comprometimento com a educação é um indicativo da visão do país de ter uma economia de classe mundial. No entanto, ao focar em alavancar tecnologia e inovação, existe uma chance maior de melhorar a qualidade da educação e, além disso, a qualidade de vida do brasileiro médio.

Leia mais: Aprendizagem criativa: um novo jeito de preparar o futuro


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