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Sala de aula eficaz

Como adaptar a aula para o contexto ativo

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ANA CAROLINA STOBBE
29/04/2022

Durante a pandemia, em meio à imposição das aulas remotas, um casal de professores resolveu testar algo diferente. E as “cobaias” foram os próprios filhos, de 5 e 7 anos de idade. A ideia foi trazer para dentro de casa os projetos de pesquisa – comuns no ensino superior, mas inusuais entre crianças.

Tudo começou no Google Classroom, onde os pequenos responderam a um formulário. Quando questionado sobre o que gostaria de aprender, o filho mais velho disse querer saber de onde veio o martelo de Thor, personagem da Marvel.

Empenhado em motivar o filho a aprender a aprender, o pai não hesitou. E logo fez mais perguntas, como as razões que o teriam levado a buscar esse conhecimento, e incentivou a criança a buscar respostas. Uma primeira investigação levou a filho a telefonar a um tio-avô, conhecedor super-heróis. Depois, assistiu a um filme sobre o deus nórdico. Não se deu por satisfeito, mas anotou tudo o que havia descoberto. Por fim, o pai-professor propôs um debate sobre o universo mitológico de Thor, as origens do martelo e outros assuntos. Com apenas sete anos de idade, a criança experimentou um processo de aprendizagem ativa.

Raissa Farjo, sócia da consultoria de educação Escola de Risco e cofundadora da startup Via Propósito.

É nesse contexto que o trabalho em grupo ganha ainda mais importância. “Eu gosto muito de trabalhar com equipes em que cada um tem o seu papel. Se existe um projeto de robótica para a turma, o aluno que é mais comunicativo pode ficar com a parte da apresentação, enquanto aquele que prefere colocar a mão na massa fica responsável por criar o robô, e assim em diante”, explica Raissa Farjo, sócia da consultoria de educação Escola de Risco e cofundadora da startup Via Propósito. “Dessa forma, todos se apropriam do conteúdo de uma maneira significativa.”

Na prática, ela foi motivada por algo que fazia parte da sua realidade, das suas predileções.

O método remonta aos estudos do bielorrusso Lev Vigotsky (1896-1934), um dos papas da Psicologia da Educação. Segundo ele, a aprendizagem acontece na relação do educando com a sociedade e o ambiente em que ele está inserido. Desconectar o ensino desse contexto, dizia, prejudica o processo de ensino e a compreensão e assimilação das aulas. Daí a necessidade de os conteúdos fazerem sentido a quem aprende a partir da sua realidade.

Até aí, tudo bem. Para a maioria dos professores, trata-se de um consenso. Mas no momento de aplicar essa transformação em sala de aula costumam aparecer os obstáculos. E a explicação é simples: os docentes precisam lidar com dezenas de alunos ao mesmo tempo, cada um com as suas particularidades.

Ainda assim, existem diferentes maneiras de centrar a aprendizagem no estudante. E pode não ser tão difícil como parece.

Estímulos assim são importantes no retorno ao ensino presencial. Isso porque, após dois anos de aulas a distância, muitos estudantes do Ensino Básico desenvolveram dificuldades de interação social. Em atividades colaborativas, além de fortalecer a relação com os colegas, é possível ver o seu trabalho reconhecido e, ao mesmo tempo, reconhecer os esforços do outro.

Leia mais: Os desafios para a recuperação do aprendizado no pós-pandemia

Aula expositiva não é vilã

Muitas vezes criticadas, as aulas expositivas podem manter a produção do conhecimento nas mãos dos alunos. Segundo Raissa Farjo, não existe problema em expor o conteúdo, desde que o professor esteja disposto a escutar os estudantes e a construir a aula de maneira conjunta. Tome-se o exemplo de uma exposição de arte, em que alguém produz um conteúdo para ser visto por outras pessoas. Cada indivíduo que se depara com a obra apropria-se dela de alguma forma – podendo interpretá-la, discuti-la, analisá-la.

É desse tipo de relação que vem o termo user experience (o UX, também conhecido como experiência do usuário), que ganhou força em áreas da tecnologia nos últimos anos. A ideia consiste em compreender as necessidades dos usuários, e o que os motiva a utilizar determinada ferramenta.

Leia mais: Como o professor, em cada turma e escola, pode nutrir o pensamento criativo

Gigantes como a Apple fazem sucesso sobretudo por partirem dessa premissa ao desenvolver seus produtos. E nada impede que o UX seja levado ao ambiente escolar – à medida que o professor se enxerga não como um detentor do conteúdo, mas como alguém que oferece experiências. Para que isso aconteça, é fundamental haver espaço para o diálogo e a participação de todos.

Criador da abordagem pedagógica conhecida como Pirâmide de Aprendizagem, o psiquiatra americano William Glasser (1925-2013) defendia que o ensino ativo é muito mais eficaz do que a transmissão passiva de conhecimentos. Assim, aprende-se 95% ensinando, 80% praticando e 70% discutindo, por exemplo.

Permitir que os alunos discutam os conteúdos que estão sendo ensinados, portanto, já denota uma grande mudança. O essencial, aqui, é realizar perguntas – e algumas delas poderiam ser sobre o que o educando gostaria de aprender, ou por que considera determinado conteúdo importante.

Professor: é preciso aprender ativamente

As capacitações e a formação continuada são essenciais para a atualização em qualquer profissão. Mais ainda quando se trata do universo da educação. Entretanto, essa qualificação terá menor efetividade se não houver uma aprendizagem ativa. “Muitas vezes, os professores fazem imersões para aprender sobre metodologias ativas, mas não colocam isso em prática durante o aprendizado. Depois, não sabem como utilizar”, observa Raissa.

Para ela, o aprendizado é potencializado quando existe emoção, algo que cause impacto no estudante. “Muitos conteúdos aprendidos na escola não são lembrados na vida adulta porque não nos emocionaram na época em que os aprendemos”, completa.

Leia mais: Professores trocam experiências em busca de ensino qualificado


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