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Competências

Como o professor, em cada turma e escola, pode nutrir o pensamento criativo

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LEONARDO PUJOL, da agência República 
22/03/2022

Em 2006, sir Ken Robinson (1950-2020) proferiu a palestra mais assistida da história na série de conferências TED: Do Schools Kill Creativity? (“As escolas matam a criatividade?”). Nela, o lendário professor emérito da Universidade de Warwick cravou: a criatividade é tão importante quanto a alfabetização. Para a psicopedagoga Luciane Bonamigo Valls, a afirmação segue verdadeira e cada vez mais atual.

Valls é autora de “Criatividade contagiante: Como a escola pode nutrir o pensamento criativo. O livro foi publicado pela editora Voo em 2021, mas escrito antes da pandemia. O que não significa que a obra é desatualizada. A autora reconhece que o impacto da covid ainda não era totalmente conhecido ou mensurável na ocasião do lançamento. Contudo, ela não hesita: seja quais forem os desafios que as escolas enfrentem, a solução sempre passa pela criatividade.

“Pensar de maneira criativa propicia não apenas condições cognitivas para lidarmos com tantas incertezas e complexidades, mas também as condições emocionais para lidarmos, de forma saudável, com tantos desafios”, diz Valls.

Seu currículo é admirável – o que lhe confere autoridade quanto ao assunto. Luciane Bonamigo Valls é formada em psicologia pela UFRGS e em Psicopedagogia pela Escuela Psicopedagogica de Buenos Aires, com MBA em Gestão Educacional pela FGV. Depois de trabalhar como psicóloga educacional e psicopedagoga clínica no Brasil, mudou-se para os Estados Unidos, onde há dez anos realiza diferentes atividades na área da criatividade e educação, incluindo um mestrado em estudos criativos na State University of New York.

Leia mais: O estímulo ao protagonismo do aluno na escola

Em seu primeiro livro, a autora traz uma porção de referências – autores, pesquisas, cases, ideias, livros, filmes, atividades. A linguagem da obra é de fácil compreensão, fugindo do discurso empolado dos textos acadêmicos que, em vez de convidar, muitas vezes espanta o leitor.

As primeiras páginas são gastas para explorar o mito da criatividade. Ela explica que, ao contrário do senso comum, o pensamento criativo não está limitado a um insight (momento Eureka), a um tipo de personalidade controlada por gene criativo ou a ser sinônimo de originalidade. Também não se trata de um contato próximo às artes ou à ciência ou de uma questão binária. Ou seja, dividir as pessoas entre criativas e não criativas – como se houvesse um botão de ligado e desligado – é algo que não faz sentido.

“Uma imagem que, para mim, descreve melhor a nossa capacidade criativa é a de uma mesa de mixagem de sons, cheia de botões e controles.” Para Valls, sob condições adequadas, qualquer pessoa pode ser criativa.

Por isso a criatividade não é ensinada, mas nutrida.

A importância do repertório

Ensinar sobre criatividade seria o equivalente a analisar processos criativos, estudar a obra de diferentes criadores, apresentar técnicas usadas na solução de problemas. Ensinar para a criatividade, por sua vez, é nutrir e estimular o pensamento criativo, transformando o potencial dos estudantes em futuras realizações criativas.

A maior parte desse processo passa, obrigatoriamente, pelo aumento de repertório. Nas palavras de Valls, nosso repertório é composto por tudo o que vivemos: atividades que realizamos, livros que lemos, filmes aos quais assistimos, aulas que tivemos, pessoas com quem convivemos, lugares que visitamos. São “pontos” que colecionamos para serem conectados. E, quanto mais pontos, mais chance de conexões.

“Quando levamos uma vida de maneira rotineira, nosso repertório fica limitado. Os nossos pontos são quase sempre os mesmos, com pequenas variações. Nossas conexões são mais ou menos previsíveis, não levando a nada muito original”, explica a autora. “Porém, cada vez que conhecemos ou experimentamos algo novo, ampliamos nosso repertório. Ganhamos mais um ponto. E esse novo ponto, pode, então, conectar-se com todos os outros já existentes.”

Leia mais: A diferença entre STEM e STEAM. E sua relação com a PBL

O problema é que a atual formação dos professores no Brasil não garante uma compreensão adequada do que significa o desenvolvimento do pensamento criativo na escola, segundo a Valls. Daí a importância do livro.

Criatividade contagiante” busca preencher o gap, apresentando diferentes atitudes promotoras da criatividade. Não há um passo a passo a ser seguido com rigor, mas uma diversidade de ideias. Cada educador, para cada turma, em cada escola, pode escolher por onde começar e o melhor ritmo a ser seguido.

O fato de uma escola estar aberta a novas experiências, propondo projetos interdisciplinares ou metodologias ativas, não significa que ela não precise repensar sua abordagem. Se queremos transformar a educação do Brasil, preparando crianças e jovens para os desafios do futuro, é preciso nutrir o pensamento criativo. Mas com afeto. “Precisamos urgentemente de ‘criafetividade’ (combinação de criatividade com afeto), essa forma de criatividade que acolhe, que aproxima, que conecta, que respeita, que transcende e que impacta positivamente”, defende a autora.


CRIATIVIDADE CONTAGIANTE, por Luciane Bonamigo Valls
Editora: Voo
Ano: 2021
Número de páginas: 184
Preço: R$ 47,50

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