Setembro Amarelo na escola: dicas para promover a saúde mental
REDAÇÃO RHYZOS
08/09/2023
Saúde mental infantil é um tema delicado, mas muito relevante. Em todo mundo, a depressão já acomete 8% das crianças e adolescentes de 6 a 12 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Problemas de estresse, ansiedade e ideação suicida também se tornaram mais comuns entre crianças e jovens.
Com a chegada do mês do Setembro Amarelo, a escola tem a oportunidade de superar velhos tabus e abordar o tema de maneira franca com os alunos.
Continue a leitura para descobrir como fazer da escola um espaço de promoção à saúde mental.
Por que falar sobre saúde mental
De acordo com uma pesquisa da OMS, anualmente ocorrem mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil casos por ano ─ média de 38 por dia.
O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos – e, por mais assustador que possa parecer, tem crescido também entre crianças de 5 a 14 anos. Em 2021, foram quase 200 casos nessa faixa etária, o maior número registrado pelo Ministério da Saúde desde 1996.
Há inúmeros fatores que levam à automutilação, desde transtornos mentais não diagnosticados corretamente até casos de ansiedade e solidão─ situações que se intensificaram após a pandemia. Isso para não falar do bullying: um estudo publicado pelo Jornal da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência revelou que uma a cada cinco das vítimas desse tipo de violência já pensou em se suicidar.
Lembre-se: o suicídio não é a solução. A orientação em casos de ideação suicida é PROCURAR AJUDA o mais rápido possível – seja com familiares, profissionais da saúde ou com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Os voluntários do CVV prestam apoio pelo site ou pelo telefone 188. O serviço é sigiloso.
Leia mais: Violência nas escolas: 3 pilares de proteção e apoio à saúde mental
Setembro Amarelo na escola: 5 dicas para ajudar
Para que a escola vire um espaço eficaz de promoção à saúde mental e prevenção ao suicídio, confira essas dicas:
Crie um ambiente escolar saudável
As crianças e os adolescentes passam boa parte do tempo na escola. Na tentativa de reduzir a incidência de transtornos emocionais, várias instituições têm investido em atendimento psicológico e terapias integrativas, com música, arte, meditação e pilates.
Além disso, a escola pode criar políticas rigorosas contra bullying, assédio e qualquer outro tipo de agressão física ou psicológica. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 40% dos estudantes já sofreram bullying, forma de violência que se caracteriza principalmente pela provocação e intimidação.
Na grande maioria dos casos, o bullying é uma busca por validação e respeito entre os indivíduos dentro de um grupo e, por isso, acontece na presença de outros colegas. A escola deve criar mecanismos para evitar essa espetacularização, promovendo atividades de conscientização sobre os impactos da violência na vida dos estudantes.
Capacite professores e funcionários
Treinar professores para identificar comportamentos e atitudes que possam desencadear situações de automutilação e para lidar com situações de crise: essa é a sugestão da psicóloga Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.
“Professores são os grandes conhecedores dos jovens, dos adolescentes e das crianças. Se eles têm uma formação de saúde mental, conseguem entender melhor. São um dos agentes na nossa sociedade que podem contribuir muito para a prevenção de transtornos. Lógico, em contato com os pais”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Também é importante que os docentes sejam capacitados para promover a inclusão e a diversidade na sala de aula. Com maior compreensão sobre diferenças culturais, étnicas, de gênero e de orientação sexual, eles poderão identificar mais facilmente eventuais casos de discriminação e prestar apoio às vítimas, que muitas vezes não denunciam as agressões por medo de represálias.
Integre saúde mental ao currículo
É preciso normalizar o diálogo sobre questões emocionais e fazer com que os estudantes se sintam à vontade para compartilhar suas preocupações. Em aulas e palestras, aborde questões como o estigma em torno das doenças mentais, sinais de alerta de depressão e ansiedade e estratégias de enfrentamento saudáveis.
Como a saúde da mente e do corpo são indissociáveis, a introdução de técnicas de relaxamento na rotina escolar pode ajudar os alunos a lidarem melhor com seus problemas. Uma atividade de yoga, por exemplo, melhora o foco e a concentração dos estudantes, além de reduzir o estresse e a ansiedade.
A escola também pode criar um sistema de monitoramento para acompanhar o bem-estar emocional dos alunos ao longo do tempo, fazendo ajustes nas estratégias de prevenção conforme necessário.
Ofereça atendimento
Oferecer serviços de aconselhamento psicológico e criar grupos de apoio para alunos que desejem falar sobre o tema é outra boa alternativa para promoção do bem-estar e saúde mental. Pais e responsáveis também podem ser convidados a receber orientação para identificar comportamentos e sinais de desgaste mental e emocional.
A presença de um psicólogo na escola faz toda a diferença. Além de conduzir sessões de aconselhamento individual com os alunos, esses profissionais podem dar orientações sobre questões emocionais de forma mais ampla, para toda a comunidade escolar.
Outra medida importante é a criação de canais de denúncia para que alunos, professores e demais funcionários possam relatar incidentes de violência de forma segura e confidencial.
Promova campanhas de conscientização
Por fim, mas não menos importante: promova campanhas de conscientização na escola – ao longo do ano, e não somente durante o Setembro Amarelo.
A atuação em etapas precoces do desenvolvimento proporciona um ambiente estável e protetivo às necessidades dos estudantes, ampliando suas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento. Ao estimular uma cultura de inclusão e respeito de forma constante, a escola cumpre seu papel social de formar não apenas alunos, mas cidadãos.
Leia mais: Como a violência escolar afeta a saúde mental dos docentes
Origem do Setembro Amarelo
Maior campanha antiestigma do mundo, o Setembro Amarelo é um desdobramento do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10 de setembro), criado em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e a Organização Mundial de Saúde (OMS).
No Brasil, o evento se popularizou a partir de 2014, encampado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Desde então, a preocupação com o tema levou à criação de leis como a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio.
Dica extra: os educadores podem acompanhar as ações do Setembro Amarelo no site da campanha. Entre os conteúdos disponíveis, estão boletins da ABP e do CFM a respeito de doenças mentais e suicídio, fatores de risco, uma cartilha sobre prevenção e uma carta aos pais, responsáveis e educadores para tratar a questão em casa e no ambiente escolar.