Como está a saúde mental do gestor escolar?
LARISSA PESSI 10/04/2022
Os desafios relativos ao bem-estar e à saúde mental dos estudantes foram amplamente documentados nos últimos três anos, bem como os dos docentes. Nesse contexto, porém, pouco se ouve falar sobre a saúde mental do gestor escolar.
Responsável tanto pela área administrativa quanto pela jornada de ensino-aprendizagem, o gestor escolar convive com diversas demandas. Durante a pandemia, gerenciar todo o seu cabedal de responsabilidades – em meio à hiperconectividade e à adequação das aulas – foi um desafio sem precedentes. Isso sem falar do luto coletivo, da crise econômica e dos problemas pessoais de cada um. Os efeitos do período pandêmico podem ser sentidos até hoje.
Quem cuida da saúde mental do gestor escolar?
Na teoria, o cuidado deveria ser feito pelo Serviço de Orientação Educacional, o famoso SOE. Formado por profissionais da psicologia, o setor é responsável por atender toda a comunidade escolar – alunos, pais, professores, gestores. O SOE oferece acolhimento, orientação e acompanhamento.
A Lei nº 13.935, sancionada em 2019, dispõe sobre o tema. O documento define a atuação da psicologia e do serviço social nas redes públicas de educação básica. Nesses espaços, a função da equipe multidisciplinar é “desenvolver ações para a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, com a participação da comunidade escolar, atuando na mediação das relações sociais e institucionais”.
Mas, na prática, a realidade é outra. “A precariedade das escolas públicas muitas vezes não suporta nem mesmo a demanda dos estudantes, que são prioridade nos atendimentos”, afirma Silvana Corbellini, professora adjunta de Psicologia da Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Leia mais: 2ª Jornada CriAtiva: a relação entre saúde mental e competências
O problema se repete em muitas escolas particulares, que costumam focar na orientação vocacional e no acompanhamento da aprendizagem dos alunos, bem como no envolvimento dos pais no ambiente escolar. Assim, o gestor escolar acaba em segundo plano.
Ao mesmo tempo, a atenção psicológica requer ações internas e que permeiam toda a instituição. “Compete ao gestor garantir as aprendizagens, o que inclui formação de professores, valorização dos trabalhos, desempenho dos estudantes etc. E isso só é possível com uma escola que possua saúde mental individual e coletiva”, aponta Corbellini.
Saúde mental integrada à cultura da escola
Tomar consciência sobre a importância do tema é central para o gestor escolar garantir uma cultura de cuidado com a saúde mental na instituição de ensino. Afinal, este é o profissional responsável por liderar a formulação do Projeto Político Pedagógico (PPP) e criar condições para implementar todas as medidas previstas.
Não bastam ações pontuais. Nutrir o bem-estar emocional e psicológico, o autoconhecimento, a capacidade de lidar com as tensões do dia a dia, a produtividade e a habilidade de contribuir com a comunidade requer ações integradas. Mas como promover isso?
De acordo com o levantamento “A educação no Brasil: Uma perspectiva internacional”, há esforços em todo o mundo focados na solução de problemas como bullying, violência e drogas com o objetivo de fortalecer a colaboração com os pais e a comunidade em geral. “Essas ações básicas podem ser feitas em forma de projetos, palestras, teatros, práticas restaurativas, assembleias, rodas de conversas”, explica a professora da UFRGS.
É o que tem sido feito por secretariais municipais de saúde. Na cidade de Pedro II, no Piauí, a saúde mental foi tema de uma conversa com 60 profissionais do sistema educacional. “É momento de refletir, comemorar os feitos e debater, com olhar mais agregador, sobre as doenças ocupacionais que podem surgir em meio a este grupo”, pontuou o psicólogo escolar Maurício Camilo da Silveira, em entrevista ao portal Cidade Verde.
No campo privado, a Rede Marista conta com o projeto “Convivendo”. A ideia é promover intervenções e mediações que buscam a resolução não-violenta de conflitos. De quebra, as ações ajudam no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e na construção de uma cultura de paz no ambiente escolar.
Leia mais: Diretores menos exigentes, professores menos estressados
De maneira geral, as instituições de ensino devem dedicar tempo à construção de relações positivas e à promoção de uma maior coesão escolar, especialmente na rede pública. A atitude deve trazer bons resultados, inclusive:
- Melhora do bem-estar;
- Melhores resultados de aprendizagem;
- Redução do risco de evasão entre alunos e professores.
Ao mesmo tempo, cabe à gestão escolar manter uma escuta ativa. Em entrevista ao Porvir, Renata Ishida, psicóloga e gerente pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida, recomendou que professores e funcionários da escola sejam escutados, consigam compartilhar as responsabilidades e recebam formação continuada.
Leia mais: 5 dicas para maximizar os resultados da sua escola
Tem uma sugestão de pauta? Quer compartilhar sua experiência em sala de aula, inspirando outros professores? Então escreva pra gente! Você pode fazer isso usando a caixa de comentários abaixo. Ou através de nossas redes sociais – estamos no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.