Relação de parceria: como a escola pode se comunicar melhor com os pais?
DANIEL SANES 03/05/2023
Nos últimos anos, a escola parece ter deixado de ser um espaço em que as crianças apenas aprendem os conteúdos previstos no currículo: tornou-se quase uma extensão da casa dos estudantes. O cenário faz com que uma boa comunicação entre os pais e escola seja ainda mais importante.
A relação dos pais com a escola é fundamental para que exista uma comunidade de ensino e que ela cumpra sua função. Essa conexão geralmente se constrói pela tradicional reunião de pais e mestres. No entanto, se for pouco estimulante, a reunião pode virar uma grande perda de tempo. O alerta é feito pelo relatório Parceria família-escola: parcerias, benefícios e proposta de ação.
De acordo com o estudo – que é assinado pela psicóloga Lisiane Alvim Saraiva Jungles, consultora da Unesco –, uma das principais reclamações da família é sobre a maneira como a escola conduz sua comunicação: de forma unidirecional, com abordagem cansativa e uma linguagem pouco clara.
Outro ponto crítico, segundo o estudo, é que as reuniões “focam em rendimento escolar, comportamentos disfuncionais e necessidade de auxílio à escola, geralmente lançando luz sobre os equívocos das famílias”. Sem entender como as discussões podem ajudá-los a contribuir para a melhoria do rendimento dos filhos, muitos pais optam por se distanciar desse convívio.
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Comunicação construtiva
As reuniões presenciais são apenas uma forma de estabelecer uma boa comunicação entre a escola e os pais. Hoje, é muito comum o contato por meio de aplicativos escolares ou mesmo pelo WhatsApp, tanto em grupos específicos quanto de forma individual.
Seja qual for o canal escolhido, algumas atitudes podem tornar essa comunicação mais construtiva. Para começar, o contato deve ser constante e centrado em todos os aspectos do aprendizado do aluno, sob um ponto de vista crítico, mas não depreciativo.
“Na mesma proporção que as famílias são chamadas apenas em circunstâncias de déficits, também vão calibrar seu olhar e percepção para os aspectos negativos da instituição, procurando a escola para denunciar suas falhas e faltas, por vezes atacando a figura do professor”, alerta Jungles. “Isso gera um processo de comunicação pautado nas falhas e na incapacidade de ambos os lados de reconhecer os esforços mútuos de construções positivas em prol dos estudantes e do processo educativo.”
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Para garantir uma comunicação mais eficaz, é preciso atenção aos detalhes. Por isso, é importante que a escola:
- Adote uma linguagem clara: evite termos técnicos ou expressões que possam gerar confusão;
- Faça com que a informação circule: verifique quais os canais de acesso mais utilizados pelas famílias e disponibilize em todos as informações necessárias sobre a escola – incluindo rotinas, regras, cronogramas e materiais;
- Chame as pessoas pelo nome: evite o uso dos termos “mãe”, “pai” ou seus diminutivos. Eles podem soar impessoais ou até mesmo pejorativos, já que descaracterizam uma comunicação individualizada;
- Ofereça feedbacks positivos: de nada adianta chamar as famílias só para reportar problemas. Ainda que o tempo seja escasso, é preciso criar momentos de trocas positivas, estimulando pais, mães e outros responsáveis a contribuírem com ideias sobre os aspectos educacionais e comportamentais dos estudantes.
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Empatia da escola gera engajamento dos pais
Um ensaio feito por pesquisadores norte-americanos em um distrito escolar de Forest Grove, Oregon (EUA), avaliou a impressão das famílias sobre o papel da escola, especialmente durante a crise do coronavírus.
No geral, os pais entenderam que práticas como o envio de e-mails semanais e conversas por e-mail, telefone ou vídeo foram extremamente úteis. As impressões se aplicam também no pós-pandemia. Por isso, ao final do ensaio, os educadores listam 7 pontos fundamentais para uma comunicação entre a escola e os pais.
- Demonstre empatia: é preciso valorizar a importância do bem-estar individual, familiar e comunitário. E reconhecer que algumas experiências, especialmente em uma situação crítica como a pandemia, moldam o envolvimento acadêmico dos alunos.
- Dê o benefício da dúvida: quando as tentativas de comunicação falharem, evite chegar à conclusão fácil de que “a família não se importa”. As pessoas podem passar por situações pessoais que as impeçam de ser tão receptivas quanto professores, coordenadores e diretores esperam.
- Abra linhas diferentes de comunicação: como já mencionado, é preciso oferecer canais para os pais fazerem perguntas e darem feedback.
- Organize-se: estabeleça um cronograma de comunicação regular para que as famílias saibam quando e como esperar atualizações.
- Crie laços: incentive os familiares a compartilharem suas ideias por meio de fóruns de discussão, por exemplo.
- Seja flexível: ofereça alternativas para os pais apoiarem o aprendizado. Peça aos alunos que falem sobre suas famílias e incentive-os a aprender com elas.
- Envolva a família: convide irmãos, avós e outros membros importantes para participar das discussões e outras atividades do calendário escolar.
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