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Sala de aula eficaz

Trabalhando o autismo e a inclusão na escola

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RENATA CARDOSO 
09/05/2022

De acordo com o Censo Escolar, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 273.924 estudantes com autismo estavam matriculados em classes comuns no Brasil em 2021. Mas estar em sala de aula, infelizmente, não significa participar de fato do processo de aprendizagem. 

Casos de exclusão ou mesmo propostas de limitação do acesso de crianças e adolescentes com autismo em escolas têm ganhado repercussão na mídia e nas redes sociais. Por desconhecimento, falta de investimento e carência de políticas públicas, pessoas com deficiência acabam sendo segregadas até em ambientes que deveriam acolhê-las integralmente.

Foi o que aconteceu com D.M., hoje com 12 anos. A mãe, Janaina Machado, precisou acionar o Conselho Tutelar e a Polícia Civil por conta de casos de bullying. Além disso, já teve que trocá-lo de escola inúmeras vezes. No rol de instituições estão as que ou apenas deixavam D.M. aos cuidados de uma babá, sem interação com os colegas, ou que o acolhiam, mas não tinham pessoas especializadas para adaptar o material didático.

Janaina Machado e o filho.

“Quando as crianças vão crescendo, o bullying vai se tornando mais agressivo. Passamos por uma experiência muito negativa, a ponto de o irmão mais novo [que tem TDH e dislexia] sofrer agressões físicas para defendê-lo. A instituição chamou os pais da criança que os agredia, mas acabou não funcionando muito”, conta Machado, que trabalha em uma instituição de ensino superior. Em outra escola, quando novamente o bullying tornou a acontecer, ela recorreu ao poder público. “Depois disso, a escola se tornou uma super parceira”, afirma. 

Leia mais: Depoimento: “Precisamos de escolas preparadas para incluir alunos especiais”

Entraves

O psicólogo Pedro Henrique Silva Ferreira é formador voluntário do Instituto de apoio educacional AutismoS. Ele explica que, apesar de o Brasil contar com legislações sobre a inclusão na educação, a prática esbarra na falta de amparo concreto para fazer valer a lei.

“Um exemplo é a pouca qualificação profissional para a atuação com pessoas autistas em ambiente escolar, assim como a falta de investimento em pesquisas científicas ou a articulação entre os serviços públicos para melhor atendermos essa parcela da população”, diz Ferreira, que atua na equipe multiprofissional de Educação Especial e Inclusiva de Timbó (SC).

Nesse contexto, é importante considerar as condições de trabalho de boa parte dos profissionais da educação. Muitas vezes, eles precisam lidar com uma rotina intensa de atividades. “Quando somamos todos esses elementos, vislumbramos um projeto educacional que termina por estar à mercê da boa intenção e da força de vontade de seus agentes, algo que de fato é sempre necessário, mas que não deve ser sua única sustentação”, destaca o psicólogo.  

Leia mais: Por que aumentar os níveis de inclusão nas escolas brasileiras

Outro entrave que muitas vezes não é lembrado é o próprio projeto arquitetônico das instituições, que dificilmente contempla os aspectos sensoriais de boa parte das pessoas autistas. Afinal, acessibilidade não consiste apenas em rampas e elevadores, mas também na organização dos estímulos disponíveis no ambiente e a forma com que eles chegam até os estudantes.

Questões técnicas e arquitetônicas à parte, para Ferreira, o principal ponto na hora de acolher e ensinar crianças e adolescentes autistas é despir-se dos preconceitos. “Ainda que você saiba o que é TEA, você não sabe quem é essa pessoa até que passe tempo com ela e também a deixe te conhecer. Esse é um pré-requisito para qualquer relacionamento e, também, para a realização de qualquer prática educacional ou intervenção terapêutica”, pondera.

Não basta chamar para a festa

Entre os debates que foram levantados recentemente está a limitação prévia de pessoas autistas por sala de aula. Segundo o psicólogo, esse tipo de atitude pode ter como efeito a exclusão e dificultar ainda mais o acesso ao ensino. E não se trata somente de entrar em uma escola, mas de ter material didático e avaliações adaptados, assim como um profissional especializado realizando o acompanhamento do estudante.

“É importante que a organização das turmas seja pensada para que as crianças estejam de fato aprendendo. Afinal, só há inclusão na educação se há aprendizado”, afirma. “Como diz o ditado, inclusão não é só chamar para festa, é tirar para dançar. As escolas chamam para festa, até porque são obrigadas por lei, mas não convidam para dançar. Sempre tive dificuldades”, reforça a mãe de D.M.

Hoje, o conselho que ela dá para as famílias de crianças autistas é ter calma. “Eu aprendi que me cabia fazer o meu melhor no presente, sem ansiedade pelo futuro”, afirma.  Além disso, Janaína reivindica união na busca por direitos. “Precisamos exigir das escolas que nossos filhos sejam realmente assistidos e consigam se desenvolver para ter um futuro digno”, finaliza.

Leia mais: O desenvolvimento socioemocional das crianças no contexto escolar


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