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Competências

ChatGPT: as diferentes perspectivas para a inteligência artificial na educação

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OTÁVIO ROSSO
10/05/2023

A inteligência artificial (IA) está ganhando a confiança dos brasileiros. De acordo com uma pesquisa realizada pela KPMG, o Brasil é o 4º país com a maior taxa de aceitação da tecnologia entre 17 nações estudadas. Além disso, o estudo concluiu que sete em cada dez brasileiros confiam na IA para uso no trabalho. Será que essa tendência se aplica inclusive na área da educação?

Diversos questionamentos surgem quando tratamos do uso de tecnologias como o ChatGPT nas instituições de ensino. Para dirimir as dúvidas, a Rhyzos promoveu no fim de abril a série “Inteligência Artificial na Educação: reflexões e possibilidades de aplicação na prática”. Foram três webinars com diferentes especialistas, analisando a IA na educação a partir de diferentes perspectivas – como captação de alunos, marketing e, claro, a sala de aula. A seguir, confira um resumo do evento.

IA: um mundo de possibilidades na educação

Para o professor Luciano Sathler, que é membro do Conselho Deliberativo do CNPq, do Fórum Nacional de Educação (FNW) e CEO da CertifikEDU, está na hora de humanizar as relações de ensino-aprendizagem. Durante sua fala, ele foi direto ao ponto: “Se a internet gerou uma mudança radical na sociedade e na educação, nos últimos 25 anos, isso que passamos a viver com a IA generativa vai gerar uma mudança muito maior na sociedade e na educação, e numa velocidade muito mais rápida. Em cinco anos, não vamos reconhecer o mundo como vemos agora”.

Ao longo da apresentação, Sathler mencionou um relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicado em 2018, que apontava que em 2030 o mundo atingiria a chamada criatividade computacional. Ou seja, as máquinas seriam capazes de realizar atividades criativas, como a produção artística. O professor afirmou que esse processo de transformação já começou – com recursos de inteligência artificial conseguindo criar textos, imagens, vídeos e códigos de programação.

O professor também abordou o impacto da IA na educação a partir de um guia sobre o ChatGPT, publicado pela Unesco no mês de março. O relatório traz algumas possibilidades de aplicação da IA no ensino básico, como:

  • Motor de ideias: alunos escrevem consultas no programa – usam a função “regenerar” para examinar respostas alternativas e escolher a mais adequada;
  • Geração de debates: estudantes usam o ChatGPT como preparação para discussões;
  • Facilitador da colaboração: uso do programa em trabalhos em grupo;
  • Guia auxiliar: IA como suporte aos professores na geração de conteúdos;
  • Tutor individual: IA fornece um feedback personalizado para os alunos;
  • Companheiro de estudo: ChatGPT auxilia os alunos no estudo para tarefas, provas e outras atividades;
  • Motivador: IA fornece jogos e desafios para ampliar a aprendizagem;
  • Avaliador: fornece ao professor os estilos de aprendizagem dos alunos;
  • Escrita: auxiliar os alunos na melhora da qualidade da escrita científica.

Leia mais: O avanço do ensino bilíngue no Brasil. E os benefícios para escolas e estudantes

“O marketing da sua escola não pode ser delegado à IA”

A afirmação é de Leonardo Pujol, jornalista com experiência em comunicação para empresas de educação, como instituições de ensino e edtechs. Sócio-diretor da República – Agência de Conteúdo, Pujol reconhece que, como qualquer nova tecnologia, o surgimento do ChatGPT causou certo medo no marcado de trabalho. Afinal, o software aparentemente poderia substituir os humanos em diversas atividades profissionais. Mas não é bem assim.

Da perspectiva de um departamento de marketing, seja numa escola ou edtech, não faz sentido substituir humanos por uma plataforma como o ChatGPT. “O problema que enxergamos aqui é a qualidade da entrega. Na maioria das vezes, os textos produzidos pelo ChatGPT são rasos, genéricos, desatualizados e prolixos. Eles carecem do aspecto humano”, afirma Pujol.

Essas limitações impedem que as empresas usem a plataforma porque, em resumo, o ChatGPT não é capaz de construir autoridade de marca.

Além da baixa qualidade e da criatividade limitada, o conteúdo do ChatGPT corre o risco de ser penalizado pelo Google – o conteúdo gerado por IA pode ser classificado como spam, e ser rejeitado. O que não é nada bom. A busca orgânica (a boa e velha pesquisa na internet sobre a escola, por exemplo) responde pela imensa maioria do tráfego da web. E, por ora, o Google tem nada menos do que 90% do mercado de mecanismos de busca. “Se o conteúdo da sua escola não aparece nos rankings do Google, ele é basicamente invisível para o público.”

“Aqui na República, acreditamos que parte dessas limitações da IA generativa será superada. As plataformas podem se tornar mais poderosas ou avançar à medida que a tecnologia evoluir. Certamente, ainda vamos descobrir novas maneiras de sermos ajudados pela IA”, afirmou Pujol. “A questão é que, como qualquer tecnologia, ela provavelmente será utilizada como suporte para algo – e não como solução.”

IA e democratização do ensino

Quando se trata de tecnologias na educação, há um todo um leque de possibilidades que não são plenamente aproveitadas. A razão é a desigualdade. No Brasil, são 9,5 mil escolas sem acesso à internet. Uma inclusão digital eficiente, portanto, é indispensável para que os brasileiros de fato tenham acesso às inovações trazidas pela inteligência artificial.

Para David Luz, da edtech de soluções e serviços digitais [RE]pensar, as tecnologias de inteligência artificial generativas representam o maior potencial de impacto na forma como produzimos e transferimos conhecimento desde a escrita. Isso porque é possível unir diferentes fontes de conhecimento produzidas ao longo da humanidade em um programa que funciona como um “guru”.

Como consequência, há uma mudança completa na forma como o conhecimento é produzido e transferido. Segundo Luz, diversos problemas educacionais poderão ser resolvidos com as novas ferramentas de IA na educação.

“O problema da personalização do ensino, por exemplo, você não conseguia resolver porque era economicamente inviável e era insolúvel. Agora você consegue democratizar o acesso à uma estratégia de qualidade. Como isso vai ser feito? É uma discussão que precisamos começar a fazer. Mas o ponto é: agora temos um aparato tecnológico para resolver problemas que antes não conseguíamos resolver”, afirma.

Leia mais: A diferença entre STEM e STEAM. E sua relação com a PBL

IA na construção do pensamento crítico

Mas o primeiro dilema de todos, tão logo surgiu o ChatGPT, foi o ético. Afinal, como garantir que os alunos não usarão textos completos do ChatGPT para os trabalhos escolares? Para o professor Bruno Sampaio, as tecnologias de IA superam essas questões, e ajudam a repensar a aprendizagem.

“O ChatGPT tem sido uma oportunidade de repensar fundamentos que são básicos e fazem parte do nosso dia a dia na escola. Entre eles estão a leitura, produção de conhecimento e escrita críticas. Já que o ChatGPT está baseado no texto, nós temos que construir estudantes que leiam criticamente”, destaca.

Captação e relacionamento

Com os avanços tecnológicos, a sociedade está se tornando cada vez mais imediatista. As pessoas exigem atendimentos rápidos e eficientes das empresas, principalmente em canais como WhatsApp. É nesse cenário que a IA pode ser um diferencial estratégico para as instituições de ensino – pois ela pode atuar fortemente na construção de relacionamento com a comunidade escolar, especialmente pais e alunos.

A captação e retenção de alunos, por exemplo, tende a ser transformada com a incorporação de IA generativa na rotina de uma escola. De acordo com Cláudio Bittencourt, da empresa de consultoria comercial MyConsulting Brasil, ferramentas como o ChatGPT podem ser empregadas em diversas etapas da captação, auxiliando na desburocratização e organização procedimentos.

Um dos exemplos trazidos por ele é a elaboração de um funil de vendas, modelo tradicional no marketing que simula a jornada de um consumidor do primeiro contato com a empresa até a compra. Para demonstrar como construir o funil, Bittencourt fez uso de um comando no ChatGPT que pedia a criação do modelo para uma escola privada de educação infantil.

Mas assim como ressaltou Pujol, a ação humana continuará essencial no relacionamento com o cliente. Na opinião de Gustavo Quirino, sócio da Realize – plataforma de gestão e criação de materiais didáticos –, habilidades como negociação, liderança e relacionamento interpessoais serão um diferencial no mercado de trabalho. “O que não será substituído (pela IA) é o que chamamos de soft skills. A questão de uma boa conversa, os valores, a competência que temos como pessoas. Isso inteligência artificial nenhuma vai substituir”, opinou.

Claúdio Bittencourt tem uma opinião semelhante quando se trata da substituição do trabalho humano pela IA. “O ChatGPT não faz o meu trabalho, mas ajuda a otimiza-lo. Me ajuda a ser mais eficiente para o meu cliente. Então o meu papel como provedor de soluções de marketing e vendas para o mercado é estudar essas ferramentas e extrair o melhor delas.”


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