Leo Fraiman: “Alunos com socioemocional forte são mais felizes”
LEONARDO PUJOL
13/05/2022
A escola é um espaço de desenvolvimento humano. Não apenas por dar acesso a conhecimentos técnicos – sobre como funciona a gravidade, a fórmula de calcular porcentagens ou a relação entre as florestas da Amazônia o regime de chuvas no Brasil. Também é um ambiente para aprender a ser resiliente, empático, criativo, resolver problemas e respeitar diferenças. Em outras palavras, desenvolver as tão famosas competências socioemocionais. Por tão importante que é na educação, foi um dos temas abordados na Bett Brasil 2022.
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Entre os dias 10 e 13 de maio, a Bett Brasil reuniu soluções para o setor educacional brasileiro, contando com a participação de 270 expositores de marcas nacionais e internacionais. A programação envolveu oficinas, fóruns e palestras como a do psicoterapeuta e educador Leo Fraiman.
Para uma plateia formada por gestores e professores, Fraiman destacou que as competências socioemocionais são a peça-chave para a conquista da felicidade dos indivíduos – e isso incluiu alunos, é claro.
Nesse sentido, o profissional, em conjunto com a FTD Educação, desenvolveu a metodologia OPEE, que tem como base o ensino e a prática de valores humanos. Um dos pilares da metodologia OPEE é a logoterapia, criada pelo neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, que afirma que o sentido de viver é apreciar a vida em seus altos e baixos. Não apenas isso, ensina que a verdadeira riqueza está em tornar o mundo belo por meio de ações diárias.
A seguir, Leo Fraiman fala mais sobre a importância de habilidades e competências socioemocionais.
Rhyzos Educação – Você fala em uma educação para “muito além” do socioemocional. O que isso significa?
Leo Fraiman – Vamos desgourmetizar esse termo? O que é a educação social? Relações humanas, ser gente, ter dignidade, andar com valores, praticar virtudes. O que é o emocional? É se tratar com consideração, é se acolher; não se recolher, é estender a mão. Na verdade, isso hoje em dia é commodity. Quando a gente começou a trabalhar com a questão socioemocional, em 2001, o mundo muitas vezes perguntava para a gente “mas isso não é perder uma aula de física, de química?”. Hoje, 20 anos depois, [o tema] está na BNCC, no PNLD, está posta a questão.
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E aí que entra a OPEE?
Sim, responder perguntas como “Para que você acorda?”, Para que você trabalha?, Para que você estuda? – é aí que entra o grande diferencial da metodologia OPEE. É a construção do sentido da vida, e sentido em termo de três questões. Sentido enquanto direção, se estou parado, se olho para fora, se eu percebo meus objetivos e evoluo, aprendo com as experiências, sentido como o significado que eu dou às experiências, esse é um outro diferencial nosso. A pessoa que tem um bom projeto de vida ela dota o sentido às coisas. O sentido não está posto, o futuro não está posto, as pessoas não são movidas pelas coisas, mas pela visão que têm. Esse é o modelo de Sartre, de Viktor Frankl. E o sentido também tem a ver com o sentir a vida. Uma pessoa que percebe o sentido da sua vida, ela vai muito além do socioemocional. Ela convive bem consigo e com os demais, faz da sua vida para além de si, ela traz algo de positivo para o mundo.
Qual é a melhor maneira de conciliar a aprendizagem “técnica” com o desenvolvimento socioemocional?
Nesses 20 anos do OPEE, temos sempre aconselhado trabalhar pelo menos uma atividade fixa semanal dentro da grade curricular formal para ter no Plano Político Pedagógico da escola um momento em que a comunidade escolar entende que aquela questão é basilar, é fundamental. Mas o projeto de vida relaciona-se com muitas outras matérias. Você pode ter a área de literatura, trazendo leituras inspiradoras, de Oscar Wilde, Shakespeare, Jane Austen, de inúmeros autores do mundo, trazendo textos da literatura brasileira, “O jardim secreto”, “História sem fim”. Você tem na matemática estudo sobre prosperidade, de anos de estudo. Você pode ter na biologia a importância do abraço, do perdão para a saúde. Você tem interfaces que todas as matérias podem fazer para tanto significar os seus conteúdos como os conteúdos do projeto de vida.
Qual é a importância das competências socioemocionais na vida de crianças e adolescentes?
Pessoas que desenvolvem competências socioemocionais, e que têm um projeto de vida consistente, têm muito mais chances de serem felizes, estão muito mais protegidas em relação às questões de saúde mental e têm menos tendências a comportamentos autodestrutivos. Melhor do que isso, fazem do mundo um lugar melhor, porque pessoas felizes fazem o mundo feliz. Pessoas intoxicadas, amarguradas, ressentidas tendem a repetir esse comportamento. Por isso é tão importante hoje, pós-pandemia, a gente falar de saúde mental, de projeto de vida, de esperança e principalmente de atitude empreendedora, no sentido de não temer o futuro, mas ao contrário, tomar o futuro nas mãos e construir uma vida saudável, feliz, uma vida para além do eu, para além do egoísmo, uma vida em que eu entenda que a felicidade é fazer o mundo feliz, que a riqueza é enriquecer o mundo com as minhas atitudes.
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