Dia dos Povos Indígenas: como abordar na escola
ANA CAROLINA STOBBE 03/04/2023
O Dia dos Povos Indígenas é comemorado em 19 de abril. A mudança que substituiu o “Dia do Índio” foi instituída por lei em 2022, e acompanha uma nova forma de pensar a diversidade: a partir da perspectiva de quem faz parte desse grupo social – que determinou que o termo “índio” é ofensivo.
Esse entendimento se baseia no princípio de que “índio” foi um termo utilizado pelos colonizadores para designar os povos que aqui viviam e não representava a diversidade de culturas da região. Os indígenas preferem nomenclaturas que evidenciam a diversidade de povos e culturas nativas do País, como “povos originários” ou “indígenas”.
Esse último, apesar da semelhança com a palavra “índio”, na realidade tem como significado “natural do lugar que se habita”.
Tudo isso fornece uma pista sobre como abordar o Dia dos Povos Indígenas na escola. Ao invés de utilizar fantasias e estereótipos, que muitas vezes são considerados preconceituosos, a melhor maneira para abordar a data é explorar o conhecimento da diversidade e o respeito às culturas divergentes.
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Como abordar o Dia dos Povos Indígenas na escola
Como a ideia é dar ênfase à diversidade e ao respeito, é importante repensar preconceitos e estereótipos. Os povos indígenas são diversos – e não se restringem às representações tradicionais. Algumas ideias de como cumprir essa missão incluem:
Priorizar informações atuais sobre os povos indígenas
Auxilia a derrubar o mito de que os povos indígenas são estáticos e pertencentes ao passado, combatendo o racismo.
Convidar indígenas para a escola
As vozes indígenas devem ser ouvidas, principalmente em datas como o 19 de abril. Para levar ainda mais conhecimento aos estudantes, nada melhor do que ouvir pessoas inseridas nessa cultura e com lugar de fala. Seja de forma presencial ou remota (ou até em vídeos gravados), alguns nomes que podem ser considerados são a mestre em educação Raquel Kubeo, os escritores Yaguarê Yamã e Daniel Munduruku, a professora Célia Xakriabá e a pedagoga Chirley Pankara. Lideranças indígenas locais também são ótimas opções.
Apresente produções indígenas
Livros, filmes e músicas foram produzidos por pessoas indígenas. Apresentar esse conteúdo aos educandos é uma maneira de reforçar o caráter diverso da cultura brasileira. Confira exemplos de produções indígenas:
- Livros: Contos indígenas brasileiros, de Daniel Munduruku; O Pássaro Encantado, de Eliane Potiguara; Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak; A Boca da Noite, de Cristino Wapichana; Kubai, O Encantado, produzido em diferentes formatos acessíveis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
- Filmes: Até o Fim do Mundo, curta de Juma Gitirana Tapuya Marruá; Meu Sangue é Vermelho, de Guilherme Bolliger e Graciela Guarani; Nossos espíritos seguem chegando, de Kuaray Poty/Ariel Ortega e Bruno Huyer; Ga vī: a voz do barro, de COMIN-FLD, Coletivo Nẽn Ga e Tela Indígena.
- Músicas: vale conferir o trabalho dos artistas Ademilson Umutina, Kunumí MC, Katú, Arandu Arakuaa, Brô MC’s, Djuena Tikuna e Nory Kaiapo.
Aborde a influência indígena
Diversas comidas e palavras presentes no cotidiano são de origem indígena – mandioca, mingau, abacaxi, jacaré, carioca, capim, maracanã, jururu, sabiá, entre muitas outras. Apresentar a origem das palavras e expressões ajuda a mostrar como as relações étnico-raciais se estabeleceram no Brasil.
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Povos indígenas: uma história de violência
Atualmente, existem 305 povos indígenas no Brasil. Eles são remanescentes dos mais de 1 mil povos existentes antes da chegada do colonizador europeu. Entre outras razões, a redução decorre das diferentes formas de violência perpetuadas no País contra essas populações. Da disseminação de doenças à exclusão de direitos, culturas e línguas inteiras foram extintas.
Isso não é coisa do passado. Como resultado de séculos de racismo enraizado, em 2021 foram registrados 355 casos de violência contra a pessoa indígena, incluindo 176 assassinatos e 148 suicídios, de acordo com o mais recente relatório Violência contra os povos indígenas do Brasil publicado pelo Conselho Indigenista Missionário. O índice é o maior desde 2013. O fim de etnias inteiras também segue acontecendo: em 2022, faleceu o chamado “indígena Tanaru”, o último representante de seu povo em Rondônia.
Nesse cenário, a educação possui um papel importante: atuar no ensino das relações étnico-raciais como forma de promover o conhecimento sobre a diversidade existente no Brasil e saber respeitá-la. Além de conscientizar e de combater a violência, essa é uma maneira de reafirmar a identidade de pessoas pertencentes aos povos indígenas que estejam dentro da escola. Principalmente ao trazer representatividade para a sala de aula.
Sancionada em 2018, a Lei 11.645 tornou obrigatório o estudo da história e da cultura dos povos indígenas nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Até por isso o ensino das relações étnico-raciais não deve estar restrito ao Dia dos Povos Indígenas, mas distribuído no currículo escolar. Mesmo assim, o 19 de abril ainda é um importante gancho para abordar a temática indígena. Afinal, esse é justamente o objetivo da data.
P.s.: Além da data nacional, há a celebração internacional. O Dia Internacional dos Povos Indígenas – criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1994 – é celebrado em 9 de agosto.
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