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Entrevista

4 perguntas para Caetano Siqueira, do Movimento Profissão Docente 

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ANA CAROLINA STOBBE 
27/09/2022 

Desde o início da civilização, os conceitos de “ensinar” e “aprender” tiveram grande relevância. No texto literário mais antigo de que se tem registro, “A Epopeia de Gilgamesh”, é justamente a absorção de novos conhecimentos que transforma Enkidu, um ser criado para combater o déspota que dá nome à obra, em um homem “civilizado”. Ao longo do tempo, o ensino – antes restrito a uma pequena parcela da população – tornou-se mais popular e acessível. Mas a figura do professor sempre manteve a relevância.  

No contexto da educação brasileira, esse papel ganha ainda mais destaque, na medida em que os desafios enfrentados pelos docentes são inúmeros, da remuneração injusta à falta de equipamentos adequados para o trabalho. Mesmo assim, não faltam exemplos de boas iniciativas, propostas por profissionais empenhados em transformar a dura realidade do sistema educacional.  

Algumas dessas ideias foram compiladas pelo coordenador de políticas docentes do Movimento Profissão Docente, Caetano Siqueira. Ele é autor de um dos artigos publicados no livro Professores em foco: 80 reflexões sobre a importância da profissão para o desenvolvimento do Brasil, recém-lançado pela instituição em parceria com o Instituto Península.  

A obra busca lançar luz sobre o cenário atual da prática docente, defendendo a valorização do professor e ressaltando sua função de agente de transformação no processo de aprendizagem e na sociedade. Ela conta com a contribuição de personalidades como Abilio Diniz, Luís Roberto Barroso, Viviane Senna, Priscila Cruz, Paulo Hartung, Fernando Abrucio, Luciano Huck, entre outros.  

Bacharel em Economia pela Universidade de São Paulo e mestre em Educação pela Universidade Stanford (EUA), Siqueira esteve à frente do Escritório de Projetos do Ministério da Educação, contribuindo para a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Novo Ensino Médio. Em conversa o Portal Rhyzos, o educador compartilha algumas perspectivas sobre a realidade da docência no País.  

A entrevista foi editada para efeitos de clareza e concisão.   

Rhyzos Educação – Em seu artigo, o senhor traz o exemplo da professora Débora Garofalo, que durante aulas de robótica levou os estudantes para fora da escola, para conhecer e interagir com o ambiente ao redor, focando na resolução de problemas. De que maneira os professores podem trazer mais iniciativas como essa para a escola?  

Caetano Siqueira – A nova BNCC reconhece a educação integral como um aspecto fundamental na forma com que nossos estudantes devem aprender. Assim, os professores têm respaldo formal para incluir em suas aulas metodologias ativas de ensino que colocam o estudante como protagonista do aprendizado, em contextos reais da sociedade. Os “passeios” da professora Débora com seus alunos pelos arredores da escola são um bom exemplo disso. Mas também podem ser debates sobre temas contemporâneos, a criação de clubes na escola, como o de astronomia, o envolvimento em competições como a Olimpíada Brasileira de Matemática, a elaboração de jornais escolares, entre outros. 

Leia mais: 7 perguntas para a professora Débora Garofalo 

O retorno à presencialidade no pós-pandemia gerou relatos de ordem comportamental e emocional. Como os professores podem contribuir para que a sala de aula volte a ser um ambiente confortável aos alunos? 

Especialmente no ensino médio, uma estratégia possível é permitir que os estudantes encontrem maneiras criativas de resolver as situações-problema propostas pelo professor em formato mais próximo de seus gostos e aspirações. Na sequência de aulas sobre os ciclos biogeoquímicos, por exemplo, um grupo pode desenvolver um aplicativo digital, enquanto outro pode apresentar uma peça de teatro e um terceiro pode calcular a quantidade de nitrogênio necessária para a horta da escola.     

Em uma perspectiva global, quais são os principais desafios da docência? E como eles podem ser enfrentados? 

Posso citar três desafios que envolvem diretamente os professores: a conexão entre universidade e escola de educação básica na graduação dos futuros professores; as condições de trabalho da profissão docente, como a dedicação a uma única escola e as regras de progressão salarial; e as condições para que os professores continuem aprimorando sua prática ao longo da vida. Esses desafios podem ser enfrentados com boas políticas públicas, que os enderecem de forma sistêmica. 

Leia mais: Como valorizar os professores da minha escola? 

O senhor foi um dos responsáveis pelo projeto do Novo Ensino Médio. Quais as expectativas em relação ao currículo?   

O Novo Ensino Médio aumenta o tempo mínimo que os estudantes devem ter de educação, possibilita que os jovens escolham a área que querem concentrar seus estudos e reconhece o ensino técnico-profissionalizante como uma dessas áreas de possível concentração. Esses macromovimentos dão maior autonomia ao estudante e permitem a personalização da trajetória acadêmica na direção do projeto de vida de cada um. São mecanismos para aumentar a relevância do Ensino Médio para o jovem e, assim, reduzir a evasão nessa etapa. 

Leia mais: O estímulo ao protagonismo do aluno na escola 


PROFESSORES EM FOCO: 80 reflexões sobre a importância da profissão para o desenvolvimento do Brasil, por Instituto Península e Movimento Profissão Docente (organizadores)
Editora: Moderna
Ano: 2022
Número de páginas: 251
Preço: gratuito


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