Ensinar felicidade é papel da escola?
CLÁUDIA BARATELLA 04/10/2022
Se há uma busca incessante do ser humano ao longo da vida é por atingir o estado pleno de felicidade. Não existem respostas fechadas para isso, mas, quando penso no assunto, três perguntas vêm à mente. Somos felizes o tempo todo? Quando pensamos em felicidade, estamos falando de bem-estar? E no ambiente escolar, no qual passamos uma parte significativa das nossas vidas, é possível trabalhar o bem-estar relacionado com o “sentir-se bem”? Entendendo que a escola tem a pretensão de educar física, social e emocionalmente, surge um novo questionamento: o que estamos fazendo de prático em sala de aula proporciona felicidade?
Desde que nascemos, o desejo de “estar bem” nos persegue. Choramos para sermos aquecidos, resmungamos para sermos alimentados, repetimos gestos ou movimentos para ganhar sorrisos e aprovações… E só com todas as demandas supridas, inclusive de companhia e atenção, é que obtemos satisfação.
De acordo com a Terapia Cognitivo Comportamental, a necessidade de aprovação e reconhecimento está fundamentada em uma crença irracional de que “Para eu ser feliz, PRECISO que TODOS gostem de mim”. Nesse caso, devemos ser considerados “bons pais” quando os outros manifestam aprovação de que estamos “acertando” nessa tarefa. O problema é que, com as atribulações da vida moderna, pais e mães convivem cada vez menos com seus filhos, justamente por estarem ocupados correndo atrás do que consideram as melhores opções para prover a família.
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Cabe também à escola entender os anseios da chamada “Geração do Quarto”, mencionada no livro homônimo de Hugo Monteiro Ferreira, coordenador do Núcleo do Cuidado Humano e do Grupo de Estudos de Transdisciplinaridade da Infância e da Juventude da Universidade Federal Rural de Pernambuco. A obra, lançada em março de 2022, é resultado de uma pesquisa com milhares de jovens brasileiros, de várias capitais, e aponta para um quadro preocupante de intenso sofrimento da juventude diante da realidade brasileira, das novas formas de socialização e das dores de crescimento em nossa sociedade.
O levantamento mostra que há um grupo de meninas e meninos entre 11 e 18 anos que estão frágeis emocionalmente, apresentando sérios problemas de convivência entre seus pares e com os adultos. Eles passam mais de seis horas por dia em seus quartos, visivelmente isolados, sofrendo por não serem ou estarem felizes. A maior característica que têm em comum, nas diferentes classes sociais, é que procuram se isolar em um cômodo da casa, sem quase nenhuma interlocução com as pessoas e com muita dificuldade de dizer o que sentem. Não raramente, essas manifestações ocorrem na escola.
Por isso, o grande desafio dos diversos agentes da educação é transformar o ambiente escolar em um lugar onde os alunos queiram estar, dialogar e conviver com seus pares, para construir relações e sentir emoções positivas. Para tanto, é preciso mudar o mindset e entender que a sala de aula é, sim, um local de escuta, de satisfação de necessidades e até mesmo de resolução de questões emocionais. E como fazer isso?
Primeiramente, deve-se aprender a acolher. Uma criança precisa perceber que nos importamos com ela. Que o que ela diz nos interessa genuinamente. Se abrirmos espaço para o protagonismo dos estudantes, eles se sentirão respeitados, seguros e pertencentes àquele ambiente. Pode não ser o segredo da felicidade plena, mas com certeza os trará bem-estar e permitirá que desenvolvam melhor suas potencialidades. E isso já é um grande avanço.
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Sobre a autora
Cláudia Baratella é gestora educacional regional.
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