Os desafios para a recuperação do aprendizado no pós-pandemia
REDAÇÃO RHYZOS EDUCAÇÃO
19/04/2022
Uma pesquisa realizada em dezembro de 2021 pelo EdWeek Research Center, que escutou 630 professores nos Estados Unidos, instalou um quadro de apreensão no segmento educacional. Como no Brasil, o baixo engajamento dos estudantes é o principal problema apontado pelos participantes (68%) do estudo – quando questionados sobre os desafios da aprendizagem. Outras quatro barreiras foram citadas por um percentual significativo de professores: problemas comportamentais (59%), quarentenas estudantis (55%), demandas da saúde mental dos alunos (54%) e suporte insuficiente dos pais (52%).
Katrina Miles, professora de inglês e teatro na escola de Ensino Fundamental Temecula, na Califórnia, comenta que “ao final do dia, se as crianças estão lidando com problemas de saúde mental ou com as necessidades básicas da sua família, isso vai atrapalhar o crescimento nas áreas de ensino e nas habilidades acadêmicas”.
Outros professores contaram que estão tendo dificuldades até mesmo em relação às regras de sala de aula, já que normas básicas estão sendo ignoradas pelos estudantes. É o caso da escola de Ensino Fundamental C. W. Ruckel, localizada na Flórida. Nela, os professores precisaram afrouxar a proibição do uso de celulares durante as aulas, pois estava se tornando inviável recolher todos os aparelhos dos estudantes.
O que acontece é que os educandos estão vivenciando momentos de frustração, estresse, distração e ansiedade neste ano escolar. Isso ainda é somado a uma complicada realidade socioemocional. Ao mesmo tempo, esses educadores precisam fazer com que os estudantes sejam aprovados ao final do ano. E esse equilíbrio é difícil de ser alcançado.
Já na escola C. W. Ruckel, onde os celulares traziam problemas, os estudantes não apenas tiveram dificuldades em não usar os aparelhos para realizar seus trabalhos escolares. Eles também estão com dificuldades em formular suas próprias respostas, ao invés de reproduzir conceitos prontos e acabados. É o que conta o professor da instituição Steve Chambers: “Você precisa continuar ensinando as crianças e as conduzindo do lugar onde estão para onde elas precisam estar, mas às vezes é difícil, porque elas querem desistir”.
Planejando um novo normal
Em outra escola da Califórnia, a Hopkins Junior High School, os estudantes não querem mais ocupar seus lugares em sala de aula. Ao invés disso, argumentam que, após terem ficados trancados em seus quartos em virtude da pandemia, agora desejam estar próximos de seus amigos. Então, simplesmente movem suas mesas para outras posições. Diante disso, a professora de ciências Yvonne Alexander está tentando levar mais atividades que envolvam trabalho em equipe para a sala de aula.
Paralelamente, Miles, a professora de Temecula, viu o quanto a pandemia afetou a autoestima intelectual de seu filho de 12 anos. A princípio, ela foi tolerante com ele e com seus alunos, dando o espaço e o tempo necessários para se acostumarem novamente ao aprendizado presencial. Entretanto, agora ela quer que os estudantes deem o seu melhor.
Por isso, convida os pais dos alunos para uma conversa, depois da aula e aos finais de semana, para saber quais desafios estão enfrentando fora da sala de aula. Os encontros servem ainda para fazer com que os responsáveis saibam de que forma seus filhos precisam agir para recuperarem o aprendizado e de que maneira podem ajudar. Segundo a professora, a escola pode ser uma distração positiva para fatores de estresse que estão fora do controle dos alunos.
No distrito de Dallas, as escolas podem escolher entre três diferentes calendários escolares, propiciando mais tempo para a instrução/formação pessoal, além de permitir suporte acadêmico adicional para os estudantes, entre outras ações de recuperação da aprendizagem. Além disso, foram contratadas mais de 50 novas clínicas de atendimento à saúde mental, tendo sido solicitadas reuniões matinais e períodos de aconselhamento. Por fim, estão sendo oferecidas aulas de aprendizado socioemocional para os professores.
Em Tulsa, as escolas públicas criaram equipes para que professores, conselheiros e administradores encontrem estudantes que pareçam precisar de apoio e, assim, oferecer a melhor forma de dar suporte a eles. Ações como essas demonstram que, por mais que não seja possível voltar ao estágio anterior à pandemia, é possível oferecer apoio para que os estudantes progridam acadêmica e socioemocionalmente.
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