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Prática docente

O que fazem os professores nas férias de julho? 

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ANA CAROLINA STOBBE
12/07/2022

O “último dia de aula” antes das férias de julho pode ser um equívoco. Ao menos para os professores. É que as férias de inverno no Brasil costumam ser de curta duração. Além disso, se o período de recesso escolar não coincidir com as férias legais, os docentes precisam ficar à disposição da escola para atividades pedagógicas.

Mas as coisas poderiam ser diferentes em 2022, segundo a pesquisadora Andreia Mendes. “O ensino 100% presencial é o ideal para a educação básica. No entanto, precisamos compreender que existem reflexos pandêmicos que nos acompanham. A escola e os processos de aprendizagem não são mais como antes”, alerta Mendes, que é coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Questões Sociais na Escola da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul).

Reflexos da pandemia

Por causa da crise sanitária, o ensino básico enfrentou (e ainda enfrenta) uma série de desafios. Há a defasagem na aprendizagem, constatada por diagnósticos avaliativos e estudos – como o realizado pela Alicerce Educação, cujos resultados demonstram um atraso de até quatro anos no ensino básico. Outro dado, da ONG Todos Pela Educação, constatou que o número de crianças com idade entre 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever cresceu 66% durante a pandemia. Em 2019, eram 1,4 milhões de crianças na situação. Em 2021, o contingente subiu para 2,4 milhões.

Leia mais: 7 perguntas para a presidente do CNE sobre o ano letivo de 2022

Soma-se a isso a questão comportamental. Uma pesquisa divulgada em maio de 2021, e que colheu depoimentos de diversas famílias, revelou temores de ordem comportamental por conta do amplo período longe da escola. Dentre as principais queixas estão o receio de serem vítimas de bullying e a baixa autoestima intelectual. De fato, após quase dois anos de ensino remoto, recuperar a motivação, o envolvimento e o engajamento entre os alunos virou tarefa de primeira ordem.

Por fim, tem a evasão escolar. O abandono da sala de aula mais que dobrou durante a pandemia. O aumento foi de 171%, segundo estudo do Todos Pela Educação. Os dados mostram que 244 mil crianças de 6 a 14 anos estavam fora da escola no segundo trimestre de 2021.  

Foi em meio a esse cenário que o ano letivo de 2022 começou. O que faz das férias de julho ainda mais importante aos professores. “Os docentes chegaram à metade do ano com uma carga muito maior do que em anos anteriores, o que traz um quadro de exaustão completa”, diz a pesquisadora da PUCRS. Pelo menos uma semana de férias coletivas não seria má ideia.

Até porque os professores fazem parte do grupo de risco da síndrome de burnout. O estresse crônico é caracterizado principalmente por sintomas como exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. Apesar disso, os docentes costumam vivenciar situações de estresse dentro e fora da sala de aula – aqui, mesmo nos períodos de descanso.  

Se recesso não é férias, o que fazer? 

Além do descanso, as escolas costumam reservar alguns dias das férias de julho para investir em formação dos professores e para avaliar as ações do primeiro semestre, incluindo o que pode ser melhorado no retorno. A reflexão é positiva, desde que a saúde mental não seja colocada de lado. O bem-estar emocional é indispensável para o retorno das aulas no segundo semestre.

Leia mais: Professores trocam experiências em busca de ensino qualificado


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