O que é um espaço maker. E como ele se aplica à educação
LARISSA PESSI
28/03/2022
Nos anos 2000, salas de informática viraram febre nas escolas. O acesso a computadores parecia representar a nova fronteira da inovação escolar, expandindo o leque de alternativas do ensino a crianças e adolescentes. Depois veio a moda tablets. “Mas o computador é ferramenta, não metodologia”, diz Maria Cláudia Amaro, CEO da Rhyzos Educação. Muitas instituições perceberam isso: que não adiantava investir em tecnologia sem propósito, apenas por modismo.
Daí que a o laboratório de informática evoluiu. Nas escolas mais modernas, está mais próximo do que se entende por espaço maker. Ele é um dos meios para praticar a Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL, na sigla em inglês). Nesta metodologia ativa, os jovens aprendem mais na prática do que na teoria. Eles colocam a mão na massa, testando soluções para um problema que pode ser identificado pelos professores ou, melhor ainda, por eles mesmos. Enquanto trabalham na solução, esses estudantes desenvolvem habilidades como colaboração, criatividade e resiliência – ao cometerem erros e descobrirem meios de corrigi-los.
Segundo uma revisão bibliográfica sobre o tema, publicada no Brazilian Journal of Science em janeiro de 2022, o movimento maker difere do ensino tradicional justamente por fazer com que o aluno “aprenda a aprender” de forma mais envolvente, significativa e estruturada. É, ainda, uma forma de compreender e aprimorar os conhecimentos recebidos nas aulas expositivas. Tudo isso com o auxílio de ferramentas de fabricação manual (maquinário de serralheria, marcenaria ou costura) e digital, como computadores, cortadoras a laser e impressoras 3D.
Os recursos oferecem infinitas possibilidades. A fundadora e CEO da Rhyzos, por exemplo, viu alunas de 13 e 14 anos de uma escola em São Francisco, nos Estados Unidos, usando o espaço maker para pesquisar personagens históricas femininas. “Elas tinham que preparar um paper a respeito da pessoa e depois fazer um busto dela”, conta Maria Cláudia Amaro. O objetivo podia ser concretizado com o uso de técnicas como colagem, desenho, impressão 3D, entre outras.
De fato, se o ensino escolar mira a formação de cidadãos mais preparados para o futuro, não basta isolar o conhecimento aos laboratórios. “A gente não forma empreendedores criando espaços maker, mas sim implementando e incentivando uma cultura de cooperação e de resolução de problemas”, disse Juliana Caetano, coordenadora geral de tecnologia educacional no colégio Stance Dual (SP), em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Além disso, o uso dos espaços de criação é contínuo, interdisciplinar e inclusivo, integrando diferentes faixas etárias. Dessa forma, o espaço maker simula a vida real, onde as soluções nascem a todo instante através da cooperação entre pessoas de realidades diferentes.
O movimento maker ainda demanda a definição de um instrumento de avaliação eficiente e adaptado ao contexto dos alunos e à evolução dos saberes. O desenvolvimento de uma relação de confiança entre professor e aluno também faz a diferença. “Precisamos entender que o percurso é fundamental e, para percorrê-lo, o professor tem que estar próximo do aluno e criar uma relação de maior cumplicidade e menos hierárquica”, opina Amaro.
A diferença entre fab lab e makerspace
Quando esteve em São Francisco, a CEO da Rhyzos não visitou um espaço maker qualquer. Era um fab lab, projetado para a fabricação digital. O modelo é idealizado e certificado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Hoje, existem mais de 2 mil fab labs ao redor do mundo.
Para ganhar esse título, o espaço maker precisa estar vinculado ao MIT. A colaboração inclui a troca de experiências e de conteúdo. Os fab labs também devem ser dotados de cinco tipos de máquina: impressoras 3D, cortadoras a laser e de vinil, e comandos numérico computadorizado (CNC) de precisão de pequeno e grande porte. Além disso, precisam abrir pelo menos uma vez por semana para o público geral. Na ocasião, chamada de Open Day, monitores do laboratório orientam o público sobre o uso dos recursos. A ideia é aumentar a comunidade maker.
Já o makerspace (espaço maker) adota um formato mais livre, sem a necessidade de vínculo com uma instituição de ensino, pesquisa ou empresa. Também não há obrigação de disponibilizar um determinado conjunto de ferramentas tecnológicas – se o laboratório disponibiliza papelão e Lego, já pode receber a nomenclatura.
Por dentro do espaço maker da Rhyzos
Com foco em oferecer e disponibilizar as melhores soluções para o ensino básico no Brasil, a Rhyzos criou um laboratório maker assim que foi fundada, em 2016. O espaço serve para transformar em realidade os projetos baseados em PBL, design thinking e STEAM (acrônimo em inglês para as áreas de ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática).
Com o makerspace, a Rhyzos busca apoiar estudantes e ajudá-los a aprender brincando, além de incentivar o desenvolvimento das tão faladas soft skills – competências socioemocionais como empatia e autonomia.
Para alcançar o objetivo, os alunos têm acesso a cortadoras laser, impressoras 3D, fresas CNC, lixadeira, furadeira, serra tico tico, plotter de vinil, ferros de solda, chaves de fenda e soprador térmico. A prototipagem conta com placas arduino uno, componentes eletrônicos e kits makey makey e de eletrônica básica. Tudo isso é utilizado, claro, com os devidos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
“Quando entra no laboratório, o aluno sabe que pode criar, recriar e elaborar ideias para desenvolver, testar e validar, sempre respeitando as regras de segurança”, explica o analista de suporte da Rhyzos, Jailson da Silva Santos.
Um dos projetos executados no local foi o protótipo de uma estação meteorológica. Nesse caso, os alunos precisaram entender a dinâmica do clima e interpretar dados coletados via sensores, bem como apresentar argumentos científicos e desenhar soluções baseadas em processos de engenharia. Ao fim, os estudantes conseguiram reconhecer o potencial das tecnologias digitais para prever fenômenos físicos, químicos e biológicos.
A cada conclusão, os participantes apresentam o desenvolvimento e o resultado do projeto para um grupo de estudantes mais novos. Isso pode ser feito em uma feira de ciências, por exemplo. Os professores conduzem todo o processo, auxiliando a execução das tarefas de acordo com o plano de aula programado.
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