Por que a ciência cognitiva pode tornar a escola mais atraente
DANIEL SANES 11/08/2022
Despertar o interesse dos alunos pelas atividades escolares é uma tarefa árdua, especialmente diante das inúmeras possibilidades que a era digital oferece. É mais fácil memorizar o enredo da nova série disponível no serviço de streaming ou os personagens de um game do que lembrar da lição passada por aquele professor “chato”. Mas seria esse um problema exclusivo das novas gerações?
Voltemos ao parágrafo anterior, só que substituindo “série” por, digamos, “história em quadrinhos”, e “game” por “álbum de figurinhas”. As distrações e a época podem ser outras, mas a realidade não muda: o ambiente escolar é, para a grande maioria dos estudantes, pouco estimulante. Entender o que leva a essa condição é o objetivo do livro Por que os alunos não gostam da escola? – Respostas da ciência cognitiva para tornar a sala de aula mais atrativa e efetiva (Penso, 2022).
A obra é do norte-americano Daniel T. Willingham, doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Harvard. Em sua segunda edição, o livro explica, em uma linguagem bastante acessível, como a mente dos estudantes funciona – e, em consequência disso, ajudar os professores a serem mais bem compreendidos. Para tanto, recorre a exemplos do dia a dia e até mesmo a ícones da cultura pop, de forma a comprovar aimportância que memória, rotina, contexto e emoção têm na construção do conhecimento.
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Segundo Willingham, um dos grandes desafios dos professores ao tentar tornar o ambiente de ensino estimulante é fazer com que a aprendizagem não seja uma tarefa nem fácil nem difícil demais. Pensar precisa ser um ato prazeroso – e a possibilidade de resolução de um problema, por sua vez, precisa ser uma atividade que compense o nosso cérebro. “As pessoas são naturalmente curiosas, mas não são naturalmente boas pensadoras. A menos que as condições cognitivas sejam favoráveis, elas evitam pensar”, escreve o autor.
Com base em suas pesquisas sobre a aplicação da psicologia cognitiva na educação, Willingham analisa situações comuns na rotina em sala de aula e aplica métodos científicos aparentemente simples para solucioná-las, com resultados surpreendentes. “O conhecimento compensa quando é conceitual e quando os fatos são relacionados entre si. Além do mais, como qualquer professor sabe, aprender listas de fatos desconexos seria difícil e tedioso, causando mais dano do que benefício. Isso encorajaria a crença de que a escola é um lugar de tédio e cansaço em vez de descoberta e entusiasmo.”
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Além da pergunta que dá nome à obra, em cada capítulo o autor se propõe a elucidar outras dúvidas comuns dos educadores – entre elas, como ajustar o ensino aos diferentes tipos de aprendizagem e como saber se as novas tecnologias são benéficas nesse processo. Em tempos cada vez mais desafiadores para os professores, Por que os alunos não gostam da escola? é uma obra fundamental para lembrar o quão dignificante a prática docente pode ser – oferecendo ótimos subsídios para torná-la mais prazerosa às partes envolvidas.
PORQUE OS ALUNOS NÃO GOSTAM DA ESCOLA?, por Daniel T. Willingham
Editora: Penso
Ano: 2022
Número de páginas: 305
Preço: R$ 97,20 (impresso) e R$ 102,40 (e-book)