bell hooks e o incentivo à pedagogia engajada
DA REDAÇÃO 16/11/2022
Seu nome de batismo era Gloria Jean Watkins. Mas a escritora e educadora americana – uma das mais importantes de sua geração – ficou conhecida como bell hooks. O pseudônimo era em homenagem à bisavó, chamada assim. Já a assinatura em letras minúsculas tinha o objetivo de romper as convenções linguísticas do meio universitário, expondo assim seu posicionamento político. Nascida em Hopkinsville, pequena cidade do estado de Kentucky, em 1952, bell hooks morreu em dezembro do ano passado, aos 69 anos. Mas suas ideias – que se estendiam à produção teórica, de abordagem feminista e antirracista – permanecem mais vivas do que nunca, principalmente na área educacional.
Com mais de 40 livros publicados em 15 idiomas, nos quais expôe principalmente a teoria do feminismo negro, um feminismo inclusivo para todas as mulheres, bell hooks explora as metodologias pedagógicas, principrincipalmente na obra Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Escrito em 1994, o livro só foi publicado no Brasil em 2013 (edição da WMF Martins Fontes).
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No livro, hooks relata suas próprias experiências como aluna de escolas segregadas do sul dos Estados Unidos e a trajetória de mais de 20 anos como professora universitária. Mais do que isso, aborda a arte de ensinar como uma prática de liberdade.
Dirigido para educadores e estudantes, “Ensinando a transgredir” é composto por 14 ensaios, ao longo dos quais a autora exalta o entusiasmo e o prazer de ensinar como ferramentas pedagógicas.
Entre lembranças e boas práticas
O leitor pode até considerar um paradoxo, mas o fato é que as melhores lembranças de bell hooks como estudante remetem ao período das escolas segregadas. À época, a maior parte das professoras eram negras que praticavam – segundo hooks – uma pedagogia essencialmente anticolonialista e antirracista.
Com o fim da segregação racial nos Estados Unidos, em meados da década de 1960, hooks frequentou escolas e, posteriormente, universidades em que maioria de docentes eram brancos – os quais reproduziam estereótipos raciais e adotavam uma metodologia baseada na velha transmissão de conhecimento, sem provocar interação com os alunos.
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Outra lembrança contida no livro é sobre o impacto que a obra de Paulo Freire causou em sua vida.
“Quando descobri a obra do pensador brasileiro, meu primeiro contato com a pedagogia crítica, encontrei nele um mentor e um guia, alguém que entendia que o aprendizado poderia ser libertador”, escreve ela, que conheceu Freire pessoalmente durante um seminário em uma das universidades na qual ela lecionava.
No primeiro contato, hooks não se acanhou de fazer críticas ao que classificava como “linguagem sexista” do autor de Pedagogia do oprimido. Para surpresa dela, Freire não apenas concordou com a observação como prometeu não repetir o engano em obras futuras. O episódio serviu para aumentar sua empatia pelo educador e filósofo. Tanto é verdade que Freire está presente na epígrafe de “Ensinando a transgredir” e é citado várias vezes na introdução do livro.
Como se não bastasse, Freire é o tema central do capítulo 4, no qual a autora inventa um “diálogo lúdico em que eu, Gloria Watkins, converso com bell hooks, minha voz de escritora”, sobre o impacto do brasileiro em sua produção.
Temas como multiculturalismo e construção da comunidade pedagógica também estão incluídos neste livro – que, passados quase dez anos de sua publicação no Brasil, continua sendo uma referência central para a formulação de uma pedagogia engajada.
ENSINANDO A TRANSGREDIR: A EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE, por bell hooks
Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2013
Número de páginas: 286
Preço: R$ 54,90
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