Por que aumentar os níveis de inclusão nas escolas brasileiras
LILIANE MOURA
06/05/2022
Você já deve ter ouvido que educação é para todos. A expressão está em comerciais, peças publicitárias e campanhas de órgãos públicos, escolas, ONGs. Sua origem remonta especialmente a dois acontecimentos.
Um deles, a Constituição Federal de 1988, que em seu Artigo 205 afirma que a educação é direito de todos. Outro é a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada na Tailândia em 1990. A Conferência de Jomtien, como também é conhecida, reuniu quase todos os países do mundo e organismos como Unesco, Unicef e Banco Mundial para assumirem, juntos, um compromisso global pela educação.
A realidade brasileira, no entanto, não reflete o que preconiza essa máxima. Sobretudo quando se leva em consideração pessoas com algum tipo de deficiência. Aqui, saltam aos olhos as características de país de proporções continentais e etnicamente heterogêneo, além de desigual social e economicamente. Em 2019, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimava a existência de 45 milhões de pessoas com deficiência (quase 20% da população).
“O processo de inclusão na escola pertence a esse contexto, que envolve todos aqueles que, de alguma forma, buscam a dignidade humana”, afirma a professora Marilene Garcia, do curso de Design Educacional e de Tecnologia da PUC-SP. Atualmente, no Brasil, apenas 44,2% das escolas urbanas possuem algum tipo de acessibilidade. O índice cai para 17,9% nas instituições localizadas em zona rural, conforme o Anuário Brasileiro da Educação básica de 2019.
Entre outras razões, a inclusão na escola tem como objetivo proporcionar o exercício da cidadania. Em vigor desde 2016, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) assegura que é dever do Estado, da família e da comunidade oferecer uma educação inclusiva a todos os estudantes. “A escola é um lugar social. Precisamos nos interessar em como integrar na sociedade pessoas com diferentes tipos de necessidades da melhor forma possível”, analisa Garcia.
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Esse movimento é reforçado pelo aumento expressivo da quantidade de pessoas com deficiência nas instituições de ensino. Em 2014, havia 887 mil estudantes com necessidades especiais matriculados em escolas país afora. Em 2018, esse número chegou a 1,2 milhão. Ainda que seja possível perceber avanços no que diz respeito à acessibilidade e à inclusão, os esforços passam longe do suficiente: conforme o IBGE, 68% desses indivíduos nem chegam a completar o Ensino Fundamental.
A seguir, confira cinco dicas que podem ajudar a elevar os níveis de inclusão na escola.
Acessibilidade física
A falta de acessibilidade física é um dos fatores que mais contribuem para a exclusão social. Por isso, rampas, corrimões, banheiros adaptados e elevadores são crucias para viabilizar o ingresso e a permanência dos estudantes nas instituições de ensino.
Qualificação do corpo docente
Para garantir o pleno direito à educação, a qualificação dos professores é peça-chave. Uma das soluções é estabelecer parcerias entre escolas e universidades, a fim de compartilhar saberes, dúvidas e vivências. A cooperação costuma ter como principais resultados o desenvolvimento de novas metodologias de ensino e a formação continuada dos docentes.
Integração profissional
Uma das alternativas para a efetivação do ensino inclusivo é a integração de profissionais de diversas áreas. Eles podem compartilhar saberes a fim de desenvolver metodologias voltadas ao ritmo de aprendizagem de cada estudante. “Se existem pessoas com necessidades especiais em sala de aula, é possível trabalhar com outro design de recursos, de ritmo e de avalição, com suporte de profissionais que conheçam mais da área médica, da psicologia.”
Combinação de elementos
Não são apenas os professores os responsáveis pela inclusão no ambiente educacional. Outros estudantes, funcionários das instituições, familiares e a comunidade em geral precisam estar em sintonia em relação às necessidades de cada indivíduo.
Tecnologia
O avanço e a popularização das ferramentas tecnológicas têm democratizado a ocupação de espaços. “A gente vive hoje em uma sociedade com mais acesso à comunicação, o que leva a uma mudança de mentalidade e de comportamento. Isso nos dá mais possiblidades para buscar soluções em lugares onde antes ninguém imaginava”, complementa Garcia.
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