Aprendizagem criativa: um novo jeito de preparar o futuro
LILIANE MOURA E RICARDO LACERDA
12/04/2022
Rádios velhos, aparelhos de CD e DVD, controles-remotos, smartphones. Quando equipamentos assim estragam ou perdem a sua funcionalidade original, o caminho costuma ser um só: sucata eletrônica. Mas não é o que acontece quando vão parar nas mãos dos alunos que participam do Projeto Dentro do Dentro. O que para muita gente se resume a lixo, para estas crianças e jovens é um instrumento para exercitar a curiosidade e a imaginação.
A iniciativa, que realiza oficinas em escolas públicas de São Paulo, é promovida pelo Instituto Catalisador, uma organização da sociedade civil criada em 2015 por um grupo de educadores interessados em trabalhar inovações na educação. Entre outros afazeres, os alunos devem desmontar os equipamentos e catalogar peça por peça. Depois, são desafiados a dar novas funcionalidades a cada item.
Um dos principais objetivos do Instituto Catalisador é desenvolver a aprendizagem criativa, conceito pedagógico cunhado pelo cientista da computação Mitchel Resnick, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT). A tese de Resnick se baseia em quatro pilares:
- Paixão;
- Projetos;
- Pares; e
- Pensar brincando.
Na prática, trata-se de uma nova forma de ensinar, em que o estímulo para o engajamento dos alunos parte da aprendizagem lúdica e transformadora. Aqui, os estudantes são instigados a questionar e investigar para, então, colocarem a mão na massa – ou seja, criar.
“Trata-se de uma abordagem pedagógica que possibilita o desenvolvimento da criatividade por meio de projetos que envolvem paixão. Inclusive, ela incentiva a colaboração, sempre a partir de um espírito lúdico”, explica Carolina Luvizoto, gerente de Educação da Faber-Castell.
Referência mundial em material escolar e de escritório, a multinacional alemã conta no Brasil com um Programa de Aprendizagem Criativa. A iniciativa propõe a transformação das salas de aula em ambientes educacionais que estimulem, em especial, três aspectos: a exploração livre, a colaboração e o desenvolvimento de projetos significativos.
Na prática, isso pode se materializar com a imersão numa cidade do futuro, numa floresta ou nas águas de um oceano. É o que preconiza o Micromundos, atividade que integra o programa da Faber-Castell oferecido a escolas do Ensino Fundamental I. Com a temática Floresta Encantada, por exemplo, os alunos criam vínculos entre os conteúdos de História, Geografia e Ciências através de seres encantados, propondo reflexões sobre sustentabilidade e meio ambiente.
O programa trabalha, inclusive, a formação e o acompanhamento pedagógico dos professores em aprendizagem criativa. Além disso, estimula o desenvolvimento atividades práticas, como desenvolver projetos, criar protótipos e solucionar problemas.
Leia mais: Lourdes Atie: “O mundo mudou – e a escola precisa mudar também”
Novas habilidades
É inegável que a pandemia acelerou ainda mais as transformações tecnológicas que já vinham impactando a educação. Nesse sentido, a aprendizagem criativa chama atenção como metodologia capaz de preparar o aluno para a necessidade constante adquirir novas habilidades.
De acordo com o estudo Projetando 2030: Uma Visão Dividida do Futuro, do Projeto Draft, 85% das profissões que existirão em 2030 ainda nem sequer foram criadas. A pesquisa, encomendada pela Dell ao Institute For The Future (IFTF), teve a participação de 3,8 mil líderes de médias e grandes empresas de 17 países – incluindo o Brasil.
Para 56% dos entrevistados, existe um erro crônico cometido pelas escolas. A ideia geral é de que elas precisam mudar o mindset do processo de aprendizagem, de modo que passem a ensinar como aprender, e não o que aprender. Daí a importância de as instituições de ensino incentivarem o pensamento criativo – essencial para a formação de adultos com habilidades que serão cada vez mais exigidas no mercado de trabalho. Entre essas soft skills estão saber trabalhar em equipe, pensar criticamente e ter capacidade de adquirir novos conhecimentos.
Quanto ao avanço tecnológico, são inegáveis os benefícios à sociedade. Mas é comum haver questionamentos se, de fato, esse saldo é mesmo positivo. Plataformas digitais, por exemplo, facilitam o desenvolvimento da criatividade. Tecnologias assim ampliam os processos de criação, registro, mapeamento e transmissão de conhecimento. Contudo, seu uso desmedido pode se revelar um fator de distração, estimulando apenas a recepção passiva dos conteúdos – sem que haja abertura à construção.
O alerta é feito por Paula Carolei, professora do Curso de Design da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “Em muitas tecnologias, o aluno recebe informação demais e cria de menos. Existe um excesso de estímulo”. Segundo ela, não se deve culpar as plataformas disponíveis, mas é importante oportunizar aos estudantes um espaço propício ao desenvolvimento prático das ideias e projetos.
Leia mais: Os melhores modelos de avaliação na educação do século 21
Tem uma sugestão de pauta? Quer compartilhar sua experiência em sala de aula, inspirando outros professores? Então escreva pra gente! Você pode fazer isso usando a caixa de comentários abaixo. Ou através de nossas redes sociais – estamos no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.