Como promover uma educação para diversidade e equidade
LEONARDO PUJOL
16/05/2022
Na Bett Brasil, maior congresso de educação da América Latina, o eixo Inclusão e Diversidade apresentou os desafios para a inclusão e o respeito às diferenças. No painel Educação para a diversidade na prática, Sara York e Alexsandro Santos mostraram o quanto ainda é necessário para escola se tornar mais inclusiva, avançando para que seja um espaço de equidade e respeito às diferenças. As informações são da Agência Brasil.
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“A cultura que pede para escola trabalhar na homogeneidade e na padronização impede a escola de ser um espaço de equidade. É na equidade que eu reconheço as diferenças. Precisamos fazer esse deslocamento de padronização para uma cultura das diferenças e da equidade”, afirmou o educador e doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP), Alexsandro Santos.
O especialista disse que as famílias também precisam entender as diferenças, com práticas contrárias ao racismo e ao machismo, além de práticas contrárias ao capacitismo, que é a discriminação e o preconceito social contra pessoas com alguma deficiência.
Santos explica que, neste momento, há dois caminhos: “As escolas precisam desenhar processos formativos também para as famílias. É preciso ter uma trilha de formação com o tema da escola inclusiva, da escola da equidade, para explicar às nossas famílias. Uma parte importante das famílias vai se acalmar, vai nos apoiar quando fazemos esse processo formativo. Haverá uma outra parte que não quer fazer essa conversa”, lamenta o educador.
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Para Alexsandro Santos, três aspectos ainda estão frágeis na construção da escola inclusiva para todas as identidades, gêneros, raças e deficiências.
- “[O primeiro é] a formação do professor. Mas uma formação no campo da didática, para ensinar em escolas nas quais os estudantes são diferentes e as diferenças são a potência da escola”, explica.
- O segundo ponto é preparar as escolas de ponto de vista da infraestrutura pedagógica. Faltam materiais didáticos, faltam ainda recursos para que os professores possam fazer esse trabalho”, elencou.
- “E o terceiro campo é pensar como é que a gente reorganiza esses espaços educativos para que eles valorizem a diversidade, valorizem as diferenças de modo que as crianças se sintam bem, porque ninguém consegue aprender numa escola que nega a sua identidade”, disse. “Então, a gente precisa reorganizar os espaços educativos para que eles sejam ambientes inclusivos”, defendeu.
A pedagoga Sara York, mulher transexual, ativista LGBTQIA+ e doutoranda em educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, disse que é necessário formação continuada dos professores para acolher a diversidade dos estudantes.
“Precisa de capacitação técnica, formação continuada, mas não a formação continuada como nós conhecíamos no passado. A partir de 2018, quando a gente tem a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4275, que permite a retificação documental de qualquer brasileiro que se entenda dentro do espectro nome e gênero, a gente precisa entender que os processos de formação continuada gerarão políticas públicas diferenciadas daquelas que nós conhecíamos”.
A ADI 4275 definiu que pessoas transexuais e transgêneros têm o direito de alterar nomes e sexo no registro civil sem a necessidade de realizar cirurgia de redesignação sexual e apresentar laudo médico pericial. Na opinião da educadora, um dos problemas centrais na educação hoje, é inserir, na escola, todos os sujeitos. “Se, na sua escola, falta indígena, há algum problema. Se, na sua escola, faltam pessoas negras em posições de poder, há algum problema”, lamenta a educadora.
Respeito às diferenças
No mesmo eixo, o escritor Mauricio Moniz e a professora Doani Emanuela Bertan, conversaram sobre suas experiências na escola: ele, como pai de uma jovem com Atrofia Muscular Espinhal e ela, como professora de Libras, além de idealizadora e responsável pelo Canal Sala8!, que dá suporte para aulas de Matemática e Língua Portuguesa a estudantes surdos.
Para a educadora, pessoas com deficiência precisam de representatividade e escuta, principalmente na elaboração de leis e projetos que possam influenciar diretamente em suas vidas. “Acredito que o primeiro passo é a representatividade, é dar voz a essas pessoas que são pessoas com deficiência e que realmente sabem o que elas passam e vivenciam. Não dá mais para uma pessoa sem deficiência se colocar no lugar do outro e decidir por eles. Espero que eles possam ter voz e decidam por si também”, defende Doana.
O escritor Mauricio Moniz detalhou a experiência positiva de acolhimento que teve na escola em que a filha, hoje com 22 anos, estudou em Rio das Ostras (RJ). “Ela era cadeirante e eles não tinham nenhuma experiência, mas aceitaram o desafio. Essa foi a primeira iniciativa e, depois, eles continuaram nesse processo de incluí-la no dia a dia das atividades com a participação dos pais. Então, acredito que é fundamental acolher, envolver os pais, que são quem conhece melhor os seus filhos. Esse foi o caminho principal que trilhamos e aí todas as diferenças ficaram pequenas quando a gente teve esse acolhimento e iniciativa”.
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No painel “Como Desenvolver um Educador Inclusivo”, as especialistas Marta Gil e Elaine Brandão falaram de suas experiências sobre inclusão de pessoas com deficiência na escola e a formação de professores. “O professor inclusivo aposta na qualidade de todos os alunos. Ele não vê apenas a cadeira de rodas, por exemplo, ele vê o aluno e não a condição dele. O educador inclusivo sabe que a educação é direito de todos. O educador inclusivo é disruptivo, chega e muda tudo dentro de nós”, disse Marta Gil, coordenadora do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, ONG que trabalha pela inclusão de pessoas com deficiências.
Para ela, o cenário de volta às aulas presenciais pós-pandemia de covid-19 é desafiante. “Mas, a educação inclusiva traz alternativas porque trabalha com estratégias concretas que respeitam características, condições e tempo de cada aluno”. Marta indicou o Guia do Educador Inclusivo como leitura fundamental para entender o universo.
Elaine Brandão, mediadora de processos educacionais participativos da Associação Educacional Labor, sugeriu formas do professor da educação inclusiva se desenvolver. “Precisamos fazer as adequações metodológicas, dar a cada um o que cada um precisa. A educação inclusiva é interação na relação, é uma busca coletiva de inovação. Tem um novo olhar”.
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