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Prática docente

Na prática: o que nos ensinam os ‘Educadores Nota 10’

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LILIANE MOURA
13/04/2022

Os problemas que envolvem a educação no Brasil nunca foram de fácil solução para professores e gestores. Em um país marcado pela desigualdade social, vários “Brasis” convivem paralelamente, cada um deles com suas dificuldades e carências. Além disso, enquanto grande parte das escolas particulares oferece tecnologia de ponta (sem falar em reforço escolar e ensino bilíngue, para citar dois exemplos), as instituições de ensino da rede pública enfrentam graves obstáculos para assegurar o acesso a equipamentos tecnológicos básicos como computadores.

Se tudo isso não fosse suficiente, em 2020 a pandemia obrigou a população a ficar reclusa para tentar frear a transmissão do vírus. Com isso, o ensino virou remoto, aumentando ainda mais o abismo entre os Brasis. Prova disso é que, no país, durante o segundo semestre de 2021, 244 mil crianças e adolescentes ficaram fora da escola de acordo com a ONG Todos Pela Educação.

Neste cenário, duas iniciativas mostraram que, apesar de tudo, gestores e professores conseguiram proporcionar protagonismo aos estudantes no processo de aprendizagem, envolvendo a comunidade e seus familiares. Esses profissionais souberam analisar suas realidades específicas e tirar proveito disso, mostrando que a arte de ensinar pode ser exercida de modo criativo e eficiente, mesmo em meio às adversidades.

Da terra ao conhecimento

Com os desafios de evitar a evasão escolar, transmitir o conteúdo, dar suporte tecnológico e engajar os alunos, a professora Francisca Fonseca Machado (graduada em História e Geografia, além de especialista em docência do Ensino Fundamental, Médio e Superior e História do Brasil) usou os elementos que tinha à disposição: a criatividade e a realidade dos alunos.

Durante a pandemia, a docente desenvolveu o projeto “Meu Quintal, Meu Campo de Pesquisa”. Em que consistia? Após estudar o tema dos sítios arqueológicos, os alunos eram incentivados a explorar o quintal das suas próprias casas, a fim de exercitar os conhecimentos históricos adquiridos. A iniciativa casa bem com a vivência dos estudantes, já que a Escola Municipal Santa Bárbara, onde a docente leciona, está localizada em uma comunidade rural, distante cerca de 22 quilômetros de São Bento, no Maranhão. Nas atividades de escavação, foram encontrados pedaços de porcelana e restos de sandália, em meio a raízes e rochas.

A professora criou o planejamento com roteiros, explicação de conteúdo e atividades de pesquisa, levando em conta também os alunos que não tinham acesso à internet. “As aulas remotas aconteciam com a elaboração de atividades escritas, que os pais buscavam e depois devolviam na escola, pois os alunos residem em comunidades distantes e sem acesso à internet”, explicou Francisca.

A professora, então, desenvolveu roteiros de atividades que estabeleciam um diálogo com o aluno como se ela estivesse presente ali com ele, propondo ações de produção, pesquisa e vivências que poderiam ser feitas no quintal de casa, envolvendo, inclusive, suas famílias. O resultado positivo evidenciou que o sucesso escolar não depende apenas do envolvimento professor, mas também de múltiplos agentes, como os familiares e a comunidade.

O sucesso do projeto foi tão grande que continuou no formato híbrido. E fez com que Francisca fosse uma das dez vencedoras da 24ª edição do Prêmio Educador Nota 10, divulgado em fevereiro de 2022. Ao total, foram 2,5 mil inscritos.

O Prêmio Educador Nota 10 foi criado em 1998 com a finalidade de reconhecer e valorizar professores e gestores de escolas da educação infantil ao ensino médio das redes pública e privada do Brasil. Nas últimas edições, foram inscritos mais de 75 mil projetos, sendo destinados R$ 2,59 milhões para os vencedores.

Escola parada, educadores em movimento

Sofrendo do mesmo problema de Francisca – alunos sem acesso à internet e à tecnologia para aplicar o ensino remoto –, João Paulo Pereira de Araújo, diretor da Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães, em Leopoldina/MG, teve que adotar uma metodologia inovadora para vencer os obstáculos. Já que os alunos não poderiam ir até a escola para receber os conteúdos, deu um jeito para que os materiais chegassem até eles.

O projeto batizado “Escola fechada, Educação em movimento” foi acompanhado de dois valores que acompanham a vivência escolar: a formação integral e a inclusão. “Trabalhamos parte do currículo com habilidades que considerávamos prioritárias naquele momento, e outra parte para fortalecer vínculos com saberes do território, competências socioemocionais, meio ambiente e projeto de vida”, explica o gestor.

Com a presença de educadores na casa dos alunos, além de transmitir o conteúdo foi possível entender a realidade deles. Além disso, uma rede de apoio e acolhimento foi criada para ajudar os estudantes a superarem o difícil momento pandêmico, com ações como Diário da Quarentena, Retalhos da Quarentena e Cápsula do Tempo. “O projeto foi muito bem-sucedido na proposta de aumentar o engajamento dos alunos”, afirma João Paulo, que no Prêmio Educador Nota 10 ficou entre os melhores gestores educacionais do país.

Essas iniciativas mostram que, sim, o problema é complicado, mas é possível driblar as adversidades para transmitir conteúdo e aumentar o engajamento dos alunos com diferentes formas de aprender e ensinar. O que os projetos têm em comum? Eles partem das realidades e vivências dos alunos, contam com forte presença dos educadores – de modo online, impresso ou por meio de visitas –, e ainda garantem o envolvimento da comunidade e dos educadores.

Em suma, o Brasil é um país extremamente desigual, e isso afeta o acesso e a qualidade do ensino escolar. E a educação é justamente um dos meios para mudar essa realidade.


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